Sonetos sobre Gente de Abade de Jazente

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Sonetos de gente de Abade de Jazente. Leia este e outros sonetos de Abade de Jazente em Poetris.

É Bem Feliz

É bem feliz por certo, o que somente
Ao rĂşstico lavor acostumado
Conduzir sabe os bois, reger o arado,
E dar Ă  terra a provida semente.

A arte de a lavrar sempre inocente
Estuda sĂł, e ignora afortunado
As novas leis, as máximas de Estado,
E os documentos de enganar a gente.

Projectos vĂŁos nĂŁo forma, e sempre isento
Da soberba ambição, nunca a Lisboa
Foi dobrar o joelho ao valimento.

Cabana humilde, onde nasceu, povoa;
E seguro no prĂłprio abatimento,
SĂł tem medo do CĂ©u, quando trovoa.

Siga-se Amor

Ou fosse, Nize, em nĂłs pouca cautela,
Ou que alguém pressentisse o nosso enleio,
Tudo se sabe já; tudo é já cheio,
Qu’algum cuidado há muito nos disvela.

Dizem, qu’eu sou feliz, que tu és bela;
E Ă s vezes com satĂ­rico rodeio,
Um murmura, outro zomba, e sem receio
A fama cada qual nos atropela.

Mas se nunca se tapa a boca Ă  gente,
E se amor sempre activo nos devora,
Porque aquela Ă© mordaz, porque este ardente;

Adoremo-nos pois como até agora:
Siga-se amor; arraste-se a corrente;
E se o mundo falar, que fale embora.

Enquanto to Permite a Mocidade

Enquanto to permite a mocidade,
Teu Pai disfarça, tua Mãe consente,
E enquanto, Nize, a moda o nĂŁo desmente
Nos brincos gasta a flor da tua idade.

Joga, dança, conversa, e a variedade,
Que causa tanta prenda, assombre a gente;
Deixa-te ver, que o SĂ©culo presente
Hoje chama ao pudor rusticidade.

Os corações de quem te aplaude enlaça:
desfruta o tempo: e tem por aforismo
Que o gosto Ă© fugitivo, a sorte escassa

Engolfa-te de amor no doce abismo;
Busca o prazer; a vida alegre passa;
Logra-te enfim; que o mais Ă© fanatismo.