Sonetos sobre Sempre de Abade de Jazente

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É Bem Feliz

É bem feliz por certo, o que somente
Ao rĂşstico lavor acostumado
Conduzir sabe os bois, reger o arado,
E dar Ă  terra a provida semente.

A arte de a lavrar sempre inocente
Estuda sĂł, e ignora afortunado
As novas leis, as máximas de Estado,
E os documentos de enganar a gente.

Projectos vĂŁos nĂŁo forma, e sempre isento
Da soberba ambição, nunca a Lisboa
Foi dobrar o joelho ao valimento.

Cabana humilde, onde nasceu, povoa;
E seguro no prĂłprio abatimento,
SĂł tem medo do CĂ©u, quando trovoa.

Amor Ă© um Arder

Amor Ă© um arder que se nĂŁo sente;
É ferida que dói, e não tem cura;
É febre, que no peito faz secura;
É mal, que as forças tira de repente.

É fogo, que consome ocultamente;
É dor, que mortifica a Criatura;
É ânsia, a mais cruel e a mais impura;
É frágoa, que devora o fogo ardente.

É um triste penar entre lamentos;
É um não acabar sempre penando;
É um andar metido em mil tormentos.

É suspiros lançar de quando em quando;
É quem me causa eternos sentimentos.
É quem me mata e vida me está dando.

[Imitando Camões]

Siga-se Amor

Ou fosse, Nize, em nĂłs pouca cautela,
Ou que alguém pressentisse o nosso enleio,
Tudo se sabe já; tudo é já cheio,
Qu’algum cuidado há muito nos disvela.

Dizem, qu’eu sou feliz, que tu és bela;
E Ă s vezes com satĂ­rico rodeio,
Um murmura, outro zomba, e sem receio
A fama cada qual nos atropela.

Mas se nunca se tapa a boca Ă  gente,
E se amor sempre activo nos devora,
Porque aquela Ă© mordaz, porque este ardente;

Adoremo-nos pois como até agora:
Siga-se amor; arraste-se a corrente;
E se o mundo falar, que fale embora.