Um Soneto
A vez primeira que eu te vi, em meio
Das harmonias de uma valsa, elado
O lĂĄbio trĂȘmulo, esplĂȘndido, rosado,
Num riso, um riso de alvoradas cheio.Cheio de febres, em febril anseio
O meu olhar fervente, desvairado
Como um condor de flamas emplumado
Vingou-se a espĂĄdua e devorou-te o seio.Depois, delĂrio atroz, loucura imensa!
A alma, o bem, a consciĂȘncia, a crença
Lancei no incĂȘndio dos olhares teus…Hoje estou pronto Ă lĂvida jornada
Da descrença sem luz, da dor do nada…
JĂĄ disse ontem Ă noite, adeus, a Deus!
Sonetos sobre Hoje de Euclides da Cunha
3 resultadosRimas
Ontem – quando, soberba, escarnecias
Dessa minha paixĂŁo – louca – suprema
E no teu lĂĄbio, essa rĂłsea algema,
A minha vida – gĂ©lida – prendias…Eu meditava em loucas utopias,
Tentava resolver grave problema…
Como engastar tua alma num poema?
E eu nĂŁo chorava quando tu te rias…Hoje, que vivo desse amor ansioso
E Ă©s minha – Ă©s minha, extraordinĂĄria sorte,
Hoje eu sou triste sendo tĂŁo ditoso!E tremo e choro – pressentindo – forte,
Vibrar, dentro em meu peito, fervoroso,
Esse excesso de vida – que Ă© a morte…
Robespierre
Alma inquebrĂĄvel – bravo sonhador
De um fim brilhante, de um poder ingente,
De seu cérebro audaz, a luz ardente
Ă que gerava a treva do Terror!Embuçado num lĂvido fulgor
Su’alma colossal, cruel, potente,
Rompe as idades, lĂșgubre, tremente,
Cheia de glĂłrias, maldiçÔes e dor!HĂĄ muito que, soberba, ess’alma ardida
Afogou-se cruenta e destemida
– Num dilĂșvio de luz: Noventa e trĂȘs…HĂĄ muito jĂĄ que emudeceu na histĂłria
Mas ainda hoje a sua atroz memĂłria
Ă o pesadelo mais cruel dos reis!…