Sonetos sobre Excesso

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Sonetos de excesso escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

LXIII

Já me enfado de ouvir este alarido,
Com que se engana o mundo em seu cuidado;
Quero ver entre as peles, e o cajado,
Se melhora a fortuna de partido.

Canse embora a lisonja ao que ferido
Da enganosa esperança anda magoado;
Que eu tenho de acolher-me sempre ao lado
Do velho desengano apercebido.

Aquele adore as roupas de alto preço,
Um siga a ostentação, outro a vaidade;
Todos se enganam com igual excesso.

Eu não chamo a isto já felicidade:

Ao campo me recolho, e reconheço,
Que não há maior bem, que a soledade.

Tudo Está Caro

A trinta e cinco réis custa a pescada:
O triste bacalhau a quatro e meio:
A dezasseis vinténs corre o centeio:
De verde a trinta réis custa a canada.

A sete, e oito tostões custa a carrada
Da torta lenha, que do monte veio:
Vende as sardinhas o galego feio
Cinco ao vintém; e seis pela calada.

O cujo regatĂŁo vai com excesso,
Revendendo as pequenas iguarias,
Que da pobreza sĂŁo todo o regresso.

Tudo está caro: só em nossos dias,
Graças ao Céu! Temos em bom preço
Os tremoços, o arroz e as Senhorias.

XLVII

Que inflexĂ­vel se mostra, que constante
Se vê este penhasco! já ferido
Do proceloso vento, e já batido
Do mar, que nele quebra a cada instante!

NĂŁo vi; nem hei de ver mais semelhante
Retrato dessa ingrata, a que o gemido
Jamais pode fazer, que enternecido
Seu peito atenda Ă s queixas de um amante.

Tal Ă©s, ingrata Nise: a rebeldia,
Que vĂŞs nesse penhasco, essa dureza
Há de ceder aos golpes algum dia:

Mas que diversa Ă© tua natureza!
Dos contĂ­nuos excessos da porfia,
Recobras novo estĂ­mulo Ă  fereza.

Pedes a Deus Quanto a ti te Quitas

QUE COM OS SEUS EXCESSOS ACELERAM A DOENÇA E A VELHICE

Que os anos sobre ti voem bem leves,
pedes a Deus; e que o rosto as pegadas
deles nĂŁo sinta, e Ă s grenhas bem penteadas
nĂŁo transmita a velhice suas neves.

Isto lhe pedes, e bĂŞbedo bebes
as vindimas em taças coroadas;
e pra teu ventre todas as manadas
que ApĂşlia pastam sĂŁo bocados breves.

Pedes a Deus quanto a ti te quitas;
a enfermidade e a velhice tragas
e estar isento delas solicitas.

Mas em rugosa pele dĂ­vidas pagas
das grandes bebedeiras que vomitas,
e na saĂşde que, comilĂŁo, estragas.

Tradução de José Bento

Desejo Amante

Elmano, de teus mimos anelante,
Elmano em te admirar, meu bem, nĂŁo erra;
Incomparáveis dons tua alma encerra,
Ornam mil perfeições o teu semblante:

Granjeias sem vontade a cada instante
Claros triunfos na amorosa guerra:
Tesouro que do CĂ©u vieste Ă  Terra,
NĂŁo precisas dos olhos de um amante.

Oh!, se eu pudesse, Amor, oh!, se eu pudesse
Cumprir meu gosto! Se em altar sublime
Os incensos de Jove a LĂ­lia desse!

Folgara o coração quanto se oprime;
E a RazĂŁo, que os excessos aborrece,
Notando a causa, revelara o crime.

Rimas

Ontem – quando, soberba, escarnecias
Dessa minha paixĂŁo – louca – suprema
E no teu lábio, essa rósea algema,
A minha vida – gĂ©lida – prendias…

Eu meditava em loucas utopias,
Tentava resolver grave problema…
Como engastar tua alma num poema?
E eu nĂŁo chorava quando tu te rias…

Hoje, que vivo desse amor ansioso
E Ă©s minha – Ă©s minha, extraordinária sorte,
Hoje eu sou triste sendo tĂŁo ditoso!

E tremo e choro – pressentindo – forte,
Vibrar, dentro em meu peito, fervoroso,
Esse excesso de vida – que Ă© a morte…