Sonetos sobre Horas de Mário Quintana

2 resultados
Sonetos de horas de Mário Quintana. Leia este e outros sonetos de Mário Quintana em Poetris.

Ah! Os RelĂłgios

Amigos, nĂŁo consultem os relĂłgios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fĂşteis problemas tĂŁo perdidas
que atĂ© parecem mais uns necrolĂłgios…

Porque o tempo é uma invenção da morte:
nĂŁo o conhece a vida – a verdadeira –
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma Ă© dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguĂ©m – ao voltar a si da vida –
acaso lhes indaga que horas sĂŁo…

A Rua Dos Cataventos – I

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta Ă© cor das venezianas:
Verde!… E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

NĂŁo sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons… acerta… desacerta…
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas…

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever atĂ© me esqueço…
Pra que pensar? TambĂ©m sou da paisagem…

Vago, solĂşvel no ar, fico sonhando…
E me transmuto… iriso-me… estremeço…
Nos leves dedos que me vĂŁo pintando!