Os Parceiros
Sonhar Ă© acordar-se para dentro:
de sĂşbito me vejo em pleno sonho
e no jogo em que todo me concentro
mais uma carta sobre a mesa ponho.Mais outra! É o jogo atroz do Tudo ou Nada!
E quase que escurece a chama triste…
E, a cada parada uma pancada,
o coração, exausto, ainda insiste.Insiste em quê?Ganhar o quê? De quem?
O meu parceiro…eu vejo que ele tem
um riso silencioso a desenhar-senuma velha caveira carcomida.
Mas eu bem sei que a morte Ă© seu disfarce…
Como também disfarce é a minha vida!
Sonetos sobre Morte de Mário Quintana
3 resultadosAh! Os RelĂłgios
Amigos, nĂŁo consultem os relĂłgios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fĂşteis problemas tĂŁo perdidas
que atĂ© parecem mais uns necrolĂłgios…Porque o tempo Ă© uma invenção da morte:
nĂŁo o conhece a vida – a verdadeira –
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma Ă© dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguĂ©m – ao voltar a si da vida –
acaso lhes indaga que horas sĂŁo…
A Rua Dos Cataventos – XXXV
Quando eu morrer e no frescor de lua
Da casa nova me quedar a sĂłs,
Deixa-me em paz na minha quieta rua…
Nada mais quero com nenhum de vĂłs!Quero Ă© ficar com alguns poemas tortos
Que andei tentando endireitar em vĂŁo…
Que lindo a Eternidade, amigos mortos,
Para as torturas lentas da ExpressĂŁo!…Eu lavarei comigo as madrugadas,
PĂ´r de sĂłis, algum luar, asas em bando,
Mais o rir das primeiras namoradas…E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios da vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do seu negro manto…