Sonetos Interrogativos de Francisco de Quevedo

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Os Enganos do Viver

REPETE A FRAGILIDADE DA VIDA E APONTA OS SEUS ENGANOS E OS SEUS INIMIGOS

Que outra verdade hav’rá senão pobreza
nesta vida tão frágil, leviana?
Os dois embustes são da vida humana,
no berço começando, honra e riqueza.

O tempo, que não volta nem tropeça,
em horas fugitivas só a engana;
em errado ansiar, sempre tirana,
Fortuna faz cansar sua fraqueza.

Vive morte calada e divertida
a própria vida; a saúde é guerra
por seu próprio alimento combatida.

Oh, quanto, distraído, o homem erra:
que em terra teme ver tombar a vida
e não vê que, ao viver, caiu por terra!

Tradução de José Bento

Desenganado da Aparência Exterior

DESENGANADO DA APARÊNCIA EXTERIOR COM O EXAME INTERIOR E VERDADEIRO

Vês tu este gigante corpulento
que solene e soberbo se reclina?
Pois por dentro é farrapos e faxina,
e é um carregador seu fundamento.

Com sua alma vive e é movimento,
e onde ele quer sua grandeza inclina;
mas quem seu modo rígido examina
despreza tal figura e ornamento.

São assim as grandezas aparentes
da presunção vazia dos tiranos:
fantásticas escórias eminentes.

Vês que, em púrpura ardendo, são humanos?
As mãos com pedrarias são diferentes?
Pois dentro nojo são, terra e gusanos.

Tradução de José Bento