Sonetos sobre Maldade de Florbela Espanca

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Sonetos de maldade de Florbela Espanca. Leia este e outros sonetos de Florbela Espanca em Poetris.

VolĂșpia

No divino impudor da mocidade,
Nesse ĂȘxtase pagĂŁo que vence a sorte,
Num frĂȘmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido Ă  morte!

A sombra entre a mentira e a verdade…
A nuvem que arrastou o vento norte…
– Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volĂșpia e de maldade!

Trago dĂĄlias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
VĂŁo-te envolvendo em cĂ­rculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…

A Minha Tragédia

Tenho Ăłdio Ă  luz e raiva Ă  claridade
Do sol, alegre, quente, na subida.
Parece que a minh’alma Ă© perseguida
Por um carrasco cheio de maldade!

Ó minha vĂŁ, inĂștil mocidade,
Trazes-me embriagada, entontecida! …
Duns beijos que me deste noutra vida,
Trago em meus lĂĄbios roxos, a saudade! …

Eu nĂŁo gosto do sol, eu tenho medo
Que me leiam nos olhos o segredo
De não amar ninguém, de ser assim!

Gosto da Noite imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim! …