Sonetos sobre MĂŁos de Carlos Drummond de Andrade

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Sonetos de mĂŁos de Carlos Drummond de Andrade. Leia este e outros sonetos de Carlos Drummond de Andrade em Poetris.

Jardim

Negro jardim onde violas soam
e o mal da vida em ecos se dispersa:
à toa uma canção envolve os ramos
como a estĂĄtua indecisa se reflete

no lago hĂĄ longos anos habitado
por peixes, não, matéria putrescível,
mas por pĂĄlidas contas de colares
que alguém vai desatando, olhos vazados

e mĂŁos oferecidas e mecĂąnicas,
de um vegetal segredo enfeitiçadas,
enquanto outras visÔes se delineiam

e logo se enovelam: mascarada,
que sei de sua essĂȘncia (ou nĂŁo a tem),
jardim apenas, pétalas, pressågio

A Ingaia CiĂȘncia

A madureza, essa terrĂ­vel prenda
que alguém nos då, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela,

a madureza vĂȘ, posto que a venda
interrompa a surpresa da janela,
o cĂ­rculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte noma cela.

A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos Ăłcios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciĂȘncia

e nem contra si mesma. O agudo olfato,
o agudo olhar, a mĂŁo, livre de encantos,
se destroem no sonho da existĂȘncia.