Sonetos sobre CiĂȘncia

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Sonetos de ciĂȘncia escritos por poetas consagrados, filĂłsofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Perfeição

A Perfeição Ă© a celeste ciĂȘncia
Da cristalização de almos encantos,
De abandonar os mĂłrbidos quebrantos
E viver de uma oculta florescĂȘncia.

Noss’alma fica da clarividĂȘncia
Dos astros e dos anjos e dos santos,
Fica lavada na lustral dos prantos,
É dos prantos divina e pura essĂȘncia.

Noss’alma fica como o ser que Ă s lutas
As mĂŁos conserva limpas, impolutas,
Sem as manchas do sangue mau da guerra.

A Perfeição é a alma estar sonhando
Em soluços, soluços, soluçando
As agonias que encontrou na Terra.!

A Aeronave

Cindindo a vastidĂŁo do Azul profundo,
Sulcando o espaço, devassando a terra,
A aeronave que um mistério encerra
Vai pelo espaço acompanhando o mundo.

E na esteira sem fim da azĂșlea esfera
Ei-la embalada n’amplidĂŁo dos ares,
Fitando o abismo sepulcral dos mares,
Vencendo o azul que ante si s’erguera.

Voa, se eleva em busca do infinito,
É como um despertar de estranho mito,
Auroreando a humana consciĂȘncia.

Cheia da luz do cintilar de um astro,
Deixa ver na fulgĂȘncia do seu rastro
A trajetĂłria augusta da CiĂȘncia.

A Ingaia CiĂȘncia

A madureza, essa terrĂ­vel prenda
que alguém nos då, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela,

a madureza vĂȘ, posto que a venda
interrompa a surpresa da janela,
o cĂ­rculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte noma cela.

A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos Ăłcios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciĂȘncia

e nem contra si mesma. O agudo olfato,
o agudo olhar, a mĂŁo, livre de encantos,
se destroem no sonho da existĂȘncia.

Ar

Vivificante ar, pai da existĂȘncia,
Assopro animador do Autor Divino,
Deste nosso subtil moto contino
Composto, onde um Deus pĂŽs sua ciĂȘncia!

Tu tens, Ăł ar, a excelsa preeminĂȘncia
De ser exalação do bafo Trino,
Tu susténs, sem cair, o home a pino:
Sem ti tem sempre pronta a decadĂȘncia.

Tu as ardentes febres lhe mitigas
Nesta, do mundo, trabalhosa lida,
Nestas da Terra (sem cessar) fadigas.

Tu Ă©s o sustentĂĄculo da vida,
Porém, quando do corpo te desligas,
Lhe dĂĄs, com dor, eterna despedida.

Amor Algébrico

Acabo de estudar – da ciĂȘncia fria e vĂŁ,
O gelo, o gelo atroz me gela ainda a mente,
Acabo de arrancar a fronte minha ardente
Das påginas cruéis de um livro de Bertrand.

Bem triste e bem cruel decerto foi o ente
Que este Saara atroz – sem aura, sem manhĂŁ,
A Álgebra criou – a mente, a alma mais sĂŁ
Nela vacila e cai, sem um sonho virente.

Acabo de estudar e pĂĄlido, cansado,
Dumas dez equaçÔes os véus hei arancado,
Estou cheio de spleen, cheio de tédio e giz.

É tempo, Ă© tempo pois de, trĂȘmulo e amoroso,
Ir dela descansar no seio venturoso
E achar do seu olhar o luminoso X.

Noli Me Tangere

A exaltação emocional do Gozo,
O Amor, a GlĂłria, a CiĂȘncia, a Arte e a Beleza
Servem de combustĂ­veis Ă  ira acesa
Das tempestades do meu ser nervoso!

Eu sou, por conseqĂŒĂȘncia um ser monstruoso!
Em minha arca encefĂĄlica indefesa
Choram as forças mås da Natureza
Sem possibilidades de repouso!

Agregados anĂŽmalos malditos
Despedaçam-se, mordem-se, dão gritos
Nas minhas camas cerebrais funĂ©reas…

Ai! NĂŁo toqueis em minhas faces verdes,
Sob pena, homens felizes, de sofrerdes
A sensação de todas as misérias!

Cegos como as Peças de Ouro Reluzentes

A Fama, a GlĂłria, as Armas, a Nobreza,
A CiĂȘncia, o Poder e tudo quanto
Em honra e distinção, de canto a canto,
Encerra deste mundo a vĂŁ Grandeza,

A Pluto, cego deus, com vil baixeza
Adoram de joelhos, como a santo:
Pois sĂł o deus do reino atroz do espanto
Pode ser rei e Numen da riqueza.

Do dossel do seu trono estĂŁo pendentes
C’roas, mitras, laurĂ©is, brazĂ”es, tiaras,
Que o cego deus reparte Ă s cegas gentes.

Tudo of’rendar-lhe vai nas torpes aras,
Cegos co’as peças de ouro reluzentes,
A Honra, a Liberdade, as vidas caras.

Dor Suprema

Um amigo me disse: «O que tu crias
É sonho e pretensão, tudo fingido;
O pranto com que a mente sĂŁ desvias
É decerto forçado e pretendido!

Em toda a canção e conto que fazes
PorquĂȘ palavra dura, amargurada?
Por que ao vero e bom nĂŁo te comprazes
E, jovem, a alegria é desdenhada?»

Porque, amigo, embora seja a loucura
Ora doce, ora dor inominada,
Nunca a dor humana a dor atura

Da mente louca, da loucura ciente;
Porque a ciĂȘncia ganha Ă© completada
Com o saber dum mal sempre iminente.

Ergue, Criança, A Fronte Condorina

Ergue, criança, a fronte condorina
Que é tua fronte, oh!, genial criança,
É como a estrela-d’alva da esperança,
Do talento sagrado que a ilumina!

Ergue-a, pois, e que, à auréola purpurina
Do Sol da CiĂȘncia, o rĂștilo tesouro
Do Estudo – o Grande Mestre – que te ensina,
Chova sobre ela suas gemas d’ouro!

E hoje que colhes um laurel bendito,
Aceita a saudação que num contrito
Fervor, eleva, qual penhor sincero

Um peito amigo a outro peito amigo,
A um gĂȘnio que desponta e que eu bendigo,
A um coração de irmão que tanto quero!

Idéia-Mãe

Ergueis ousadamente o templo das idéias
Assim como uns herĂłis, por sobre os vossos ombros
E ides atravĂ©s de um negro mar d’escombros,
Traçando pelo ar as loiras epopéias.

A luz tem para vós os filtros magnéticos
Que andam pela flor e brincam pela estrela.
E vĂłs amais a luz, gostais sempre de vĂȘ-la
Em amplo cintilar — nuns ĂȘxtases patĂ©ticos.

É esse o aspirar do sĂ©c’lo que deslumbra,
Que rasga da ciĂȘncia a tĂ©trica penumbra
E gera Vítor Hugo, Haeckel e Littré.

É esse o grande — Fiat — que rola no infinito!…
É esse o palpitar, homĂ©rico e bendito,
De todo o ser que vive, estuda, pensa e lĂȘ!!…

O Filho De Latona Esclarecido

O filho de Latona esclarecido,
que com seu raio alegra a humana gente,
o hĂłrrido Piton, brava serpente,
matou, sendo das gentes tĂŁo temido.

Feriu com arco, e de arco foi ferido,
com ponta aguda d’ouro reluzente;
nas tessĂĄlicas praias, docemente,
pela Ninfa Peneia andou perdido.

NĂŁo lhe pĂŽde valer, para seu dano,
ciĂȘncia, diligĂȘncias, nem respeito
de ser alto, celeste e soberano.

Se este nunca alcançou nem um engano
de quem era tĂŁo pouco em seu respeito,
eu que espero de um ser que Ă© mais que humano?

Barrow-On-Furness II

Deuses, forças, almas de ciĂȘncia ou fĂ©,
Eh! Tanta explicação que nada explica!
Estou sentado no cais, numa barrica,
E não compreendo mais do que de pé.

Por que o havia de compreender?
Pois sim, mas também por que o não havia?
Águia do rio, correndo suja e fria,
Eu passo como tu, sem mais valer…

Ó universo, novelo emaranhado,
Que paciĂȘncia de dedos de quem pensa
Em outras cousa te pÔe separado?

Deixa de ser novelo o que nos fica…
A que brincar? Ao amor?, Ă  indif’rença?
Por mim, sĂł me levanto da barrica.

RuĂ­nas

I

E Ă© triste ver assim ir desfolhando,
VĂȘ-las levadas na amplidĂŁo do ar,
As ilusÔes que andåmos levantando
Sobre o peito das mĂŁes, o eterno altar.

Nem sabe a gente jĂĄ como, nem quando,
HĂĄ-de a nossa alma um dia descansar!
Que as almas vĂŁo perdidas, vĂŁo boiando
Nesta corrente elĂ©ctrica do mar!…

Ó ciĂȘncia, minha amante, Ăł sonho belo!
És fria como a folha dum cutelo…
Nunca o teu lĂĄbio conheceu piedade!

Mas caia embora o velho paraĂ­so,
Caia a fé, caia Deus! sendo preciso,
Em nome do Direito e da Verdade.

II

Morreu-me a luz da crença — alva cecĂ©m,
Pålida virgem de luzentas tranças
Dorme agora na campa das crianças,
Onde eu quisera repousar também.

A graça, as ilusÔes, o amor, a unção,
Doiradas catedrais do meu passado,
Tudo caiu desfeito, escalavrado
Nos tremendos combates da razĂŁo.

Perdida a fé, esse imortal abrigo,
Fiquei sozinho como herĂłi antigo
Batalhando sem elmo e sem escudo.

A implacĂĄvel, a rĂ­gida ciĂȘncia
Deixou-me unicamente a ProvidĂȘncia,

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Amor e Seu Tempo

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prémio subterrùneo e coruscante,
leitura de relĂąmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe.

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relĂłgio
minĂșsculo, vibrando no crepĂșsculo.

Amor Ă© o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciĂȘncia
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

MĂŁe…

Mãe — que adormente este viver dorido,
E me vele esta noite de tal frio,
E com as mĂŁos piedosas ate o fio
Do meu pobre existir, meio partido…

Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sĂ­tio mais sombrio…
Me banhe e lave a alma lĂĄ no rio
Da clara luz do seu olhar querido…

Eu dava o meu orgulho de homem — dava
Minha estĂ©ril ciĂȘncia, sem receio,
E em débil criancinha me tornava.

Descuidada, feliz, dócil também,
Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
Se tu fosses, querida, a minha mĂŁe!

O Fim Das Coisas

Pode o homem bruto, adstricto Ă  ciĂȘncia grave,
Arrancar, num triunfo surpreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!

Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
SĂŽfrego, o solo sĂĄxeo; e, na Ăąnsia ardente
De perscrutar o Ă­ntimo do orbe, invente
A limpada aflogĂ­stica de Davy!

Em vĂŁo! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio …

E quando, ao cabo do Ășltimo milĂȘnio,
A humanidade vai pesar seu gĂȘnio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!

Mundos Extintos

SĂŁo tĂŁo remotas as estrelas que,
apesar da vertiginosa velocidade da luz,
elas se apagam. e continuam a brilhar durante séculos.

MORREM OS MUNDOS… Silenciosa e escura,
Eterna noite cinge-os. Mudas, frias,
Nas luminosas solidÔes da altura
Erguem-se, assim, necrĂłpoles sombrias…

Mas pra nĂłs, di-lo a ciĂȘncia, alĂ©m perdura
A vida, e expande as rĂștilas magias…
Pelos séculos em fora a luz fulgura
Traçando-lhes as órbitas vazias.

Meus ideais! extinta claridade –
Mortos, rompeis, fantĂĄsticos e insanos
Da minh’alma a revolta imensidade…

E sois ainda todos os enganos
E toda a luz, e toda a mocidade
Desta velhice trĂĄgica aos vinte anos…