Sonetos sobre Ganho

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Sonetos de ganho escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Soneto XXVI

Fortuna ingrata, porque me persegues?
Apareces-me branda e logo foges,
Dás-me um bem, porque dele me despojes,
Mostras-te liberal, só porque negues.

Para que só me deixes, só me segues,
Fazes-me mimos, só porque me enojes,
Se me levantas, é porque me arrojes,
Se me asseguras, é porque me entregues.

Vinga-te bem, Fortuna, que vingado
Estou assaz de ti, com te vingares,
Que todos dizem ser mal empregado.

Um bem me fazes sem o imaginares:
C’o Mundo, eu contra mim tenho apostado,
E assim ganho sempre c’os azares.

Quando Se Vir Com Água O Fogo Arder

Quando se vir com água o fogo arder,
e misturar co dia a noite escura,
e a terra se vir naquela altura
em que se vem os Céus prevalecer;

o Amor por razão mandado ser,
e a todos ser igual nossa ventura,
com tal mudança, vossa formosura
então a poderei deixar de ver.

Porém não sendo vista esta mudança
no mundo (como claro está não ver-se),
não se espere de mim deixar de ver-vos.

Que basta estar em vós minha esperança,
o ganho de minha alma, e o perder-se,
para não deixar nunca de querer-vos.

Amor e Seu Tempo

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prémio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe.

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

Mestre, Mestre Querido, Pai De Amor

Mestre, Mestre querido, Pai de Amor,
As glórias que conquistas co’a razão,
Enchendo de prazer teu coração
T’atraem grandes bençãos do Senhor!

Os teus louros têm mais vivo fulgor,
Que os ganhos ao ribombo do canhão;
Que os de um Aníbal, d’um Napoleão,
Alcançados das mortes entre o horror.

Sim! Que os louros terríveis que Mavorte
Ao soldado concede em dura guerra,
Todos murcha a idéia só da morte!

Mas nos teus vero mérito se encerra,
Que não cede do tempo ao braço forte,
E alcançam justo prêmio além da terra!…