Sonetos sobre PenitĂȘncia de Florbela Espanca

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Sonetos de penitĂȘncia de Florbela Espanca. Leia este e outros sonetos de Florbela Espanca em Poetris.

Sonho Vago

Um sonho alado que nasceu um instante,
Erguido ao alto em horas de demĂȘncia…
Gotas de ĂĄgua que tombam em cadĂȘncia
Na minh’alma tristĂ­ssima, distante…

Onde estĂĄ ele, o Desejado? O Infante?
O que hĂĄ-de vir e amar-me em doida ardĂȘncia?
O das horas de mĂĄgoa e penitĂȘncia?
O PrĂ­ncipe Encantado? O Eleito? O Amante?

E neste sonho eu jĂĄ nem sei quem sou…
O brando marulhar dum longo beijo
Que nĂŁo chegou a dar-se e que passou…

Um fogo-fĂĄtuo rĂștilo, talvez…
E eu ando a procurar-te e jĂĄ te vejo!
E tu jĂĄ me encontraste e nĂŁo me vĂȘs!…

Évora

Ao amigo vindo da luminosa ItĂĄlia, a minha cidade, como eu soturno e triste…

Évora! Ruas ermas sob os cĂ©us
Cor de violetas roxas…Ruas frades
Pedindo em triste penitĂȘncia a Deus
Que nos perdoe as mĂ­seras vaidades!

Tenho corrido em vĂŁo tantas cidades!
E sĂł aqui recordo os beijos teus,
E sĂł aqui eu sinto que sĂŁo meus
Os sonhos que sonhei noutras idades!

Évora!…O teu olhar…o teu perfil…
Tua boca sinuosa, um mĂȘs de Abril,
Que o coração no peito me alvoroça!

…Em cada viela o vulto dum fantasma…
E a minh’alma soturna escuta e pasma…
E sente-se passar menina e moça…