A Mulher Borda
A mulher borda
violentamente
o ventre contra o chão.É este o centro do círculo da loucura
e a luz está toda nos dedos.O crime tem a idade do mundo, diz,
e recomeça a coser os pulsos
filho a filho.A loucura é agora uma mão
cheia de sal
voltada para dentro.Nenhum vaso se entorna
já em seu nome,
e sobre a mesaos frutos estão fechados como pedras.
Passagens sobre Idade
450 resultadosA idade não perdoa.
Observei que o carácter de quase todos os homens parece particularmente adaptado a uma certa idade da vida, de modo que nela se apresenta da forma mais proveitosa. Alguns são jovens amáveis, e depois isso passa, outros, homens enérgicos e activos, dos quais a idade rouba todos os valores. Muitos apresentam-se mais favoravelmente na velhice, quando são mais indulgentes por serem mais experientes e serenos.
Um Homem e uma Mulher entre Quatro Paredes
Assim que um homem e uma mulher de quase qualquer idade estão juntos sozinhos, dentro de quatro paredes, assume-se que então qualquer coisa pode acontecer. Combustão espontânea, fornicação imediata, triunfo dos sentidos. Que possibilidades os homens e as mulheres têm que ver um no outro para inferir tais perigos. Ou, acreditando nos perigos, com que frequência eles precisam de pensar sobre as possibilidades.
A idade da nossa consciência simplifica muitas coisas e atalha sobretudo a dor. Ainda bem. Que nunca deixemos morrer a criança interior que mora em nós.
Não lamento um único excesso dos que cometi na juventude. Só lamento, na minha avançada idade, as ocasiões e possibilidades que não aproveitei.
Um diplomata é aquele que se lembra sempre do aniversário de uma mulher, mas nunca da sua idade.
Sensibilidade e Maturidade
Uma certa vivacidade de impressões, mais directamente dependentes da sensibilidade física, decresce com a idade. Ao chegar aqui, e sobretudo depois de ter aqui passado alguns dias, não senti, desta vez, essas vagas de tristeza ou de entusiasmo que este local me costumava comunicar, e cuja recordação, depois, me era tão doce.
Deixá-lo-ei, se calhar, sem a pena que outrora sentia. O meu espírito, por seu turno, tem hoje uma segurança muito maior, uma maior capacidade de fazer associações e de se exprimir; a inteligência cresceu, mas a alma perdeu parte da sua elasticidade e irritabilidade. E porque é que, ao fim e ao cabo, não partilhará o homem o destino comum de todos os outros seres?
Ao pegarmos num fruto delicioso, será justo pretender respirar ao mesmo tempo o perfume da flor? Foi preciso passar pela subtil delicadeza da nossa sensibilidade juvenil para chegar a esta segurança e maturidade do espírito. Talvez os grandes homens – é o que eu penso – sejam aqueles que, numa idade em que a inteligência possui já a sua plena força, ainda conservam parte dessa impetuosidade das impressões, que é própria da juventude.
Uma Nação só Vive porque Pensa
Uma nação só vive porque pensa. Cogitat ergo est. A força e a riqueza não bastam para provar que uma nação vive duma vida que mereça ser glorificada na História – como rijos músculos num corpo e ouro farto numa bolsa não bastam para que um homem honre em si a Humanidade. Um reino de África, com guerreiros incontáveis nas suas aringas e incontáveis diamantes nas suas colinas, será sempre uma terra bravia e morta, que, para lucro da Civilização, os civilizados pisam e retalham tão desassombradamente como se sangra e se corta a rês bruta para nutrir o animal pensante. E por outro lado se o Egipto ou Tunis formassem resplandescentes centros de ciências, de literaturas e de artes, e, através de uma serena legião de homens geniais, incessantemente educassem o mundo – nenhuma nação mesmo nesta idade do ferro e de força, ousaria ocupar como um campo maninho e sem dono esses solos augustos donde se elevasse, para tornar as almas melhores, o enxame sublime das ideias e das formas.
Só na verdade o pensamento e a sua criação suprema, a ciência, a literatura, as artes, dão grandeza aos Povos, atraem para eles universal reverência e carinho,
Eu tinha 20 anos. Não consentirei que ninguém diga que é a idade mais bela da vida.
A idade não te protege do amor. Mas o amor, de certa forma, te protege da idade.
Tão Pouco Sentimento é a Emoção
tão pouco sentimento é a emoção, que quando
do chão a levantamos se fez leve
maneira de outras águasos camiões caminham para o norte
com serenos destroços
as maquinetas baças da invençãoserá verão, os panos levantados;
terás no espelho a idade, o jeito quase
infeliz de ser homem;o pouco amor te imita; e nunca
chegarás a saber que não existes.
A única coisa que vem sem esforço é a idade.
Eu não sou um profeta nem um homem da idade da pedra, sou apenas um mortal como potencial de super-homem. Estou a viver.
A Torpe Sociedade onde Nasci
I
Ao ver um garotito esfarrapado
Brincando numa rua da cidade,
Senti a nostalgia do passado,
Pensando que já fui daquela idade.II
Que feliz eu era então e que alegria…
Que loucura a brincar, santo delírio!…
Embora fosse mártir, não sabia
Que o mundo me criava p’ra o martírio!III
Já quando um homenzinho, é que senti
O dilema terrível que me impôs
A torpe sociedade onde nasci:
— De ser vítima humilde ou ser algoz…IV
E agora é o acaso quem me guia.
Sem esperança, sem um fim, sem uma fé,
Sou tudo: mas não sou o que seria
Se o mundo fosse bom — como não é!V
Tuberculoso!… Mas que triste sorte!
Podia suicidar-me, mas não quero
Que o mundo diga que me desespero
E que me mato por ter medo à morte…
A Verdade é um Modo de Estarmos a Bem Connosco
Cada época, como cada idade da vida, tem o seu secreto e indizível e injustificável sentido de equilíbrio. Por ele sabemos o que está certo e errado, sensato e ridículo. E isto não é só visível no que é produto da emotividade. É visível mesmo na manifestação mais neutral como uma notícia ou um anúncio de jornal. Donde nasce esse equilíbrio? Que é que o constitui? O destrói? Porque é que se não rebentava a rir com os anúncios de há cento e tal anos? (Rebentámos nós, aqui há uns meses, em casa dos Paixões, ao ler um jornal de 186…). Mas a razão deve ser a mesma por que se não rebentou a rir com a moda que há anos usámos, os livros ridículos que nos entusiasmaram, as anedotas com que rimos e de que devíamos apenas rir. O homem é, no corpo como no espírito, um equilíbrio de tensões. Só que as do espírito, mais do que as do corpo, se reorganizam com mais frequência. Equilibrado o espírito, mete-se-lhe uma ideia nova. Se não é expulsa, há nela a verdade. Porque a verdade é isso: a inclusão de seja o que for no nosso mecanismo sem que lhe rebente as estruturas.
Suportar o peso da idade é a última prova de juventude.
Velhas Árvores
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas…O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
O que é uma grande vida senão um pensamento da juventude realizado pela idade madura?
Quantos anos tenho?… É evidente que um homem, na minha idade, não pode ter mais do que isso.