Sonetos sobre SilĂȘncio de Orlando Neves

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Sonetos de silĂȘncio de Orlando Neves. Leia este e outros sonetos de Orlando Neves em Poetris.

A Idade

Ao princípio, era a doença de ser, pura e simples
exaltação das trevas de que a casa era a luz do mundo.
Ao princĂ­pio, estava o amor oculto no secreto fio
da memĂłria do mundo. Ao princĂ­pio, era o insondĂĄvel

desconhecido, aberto nas mãos maternais, sortilégio
do mundo. Ao princĂ­pio, vinha o silĂȘncio como ponto
de encontro do nada do mundo. Ao princĂ­pio, chegava
a dor da pedra opressa nos coraçÔes, sublime prodígio

do mundo. Ao princĂ­pio, revelava-se o inominĂĄvel,
o imĂłvel, o informe, a intimidade temida do mundo.
Ao princĂ­pio, clamava-se a concĂłrdia e a piedade,

afirmação absoluta da constùncia do mundo.
Ao princĂ­pio, era o calor e a paz. Depois, a casa
abriu-se à terra fértil, a madre terra, a medonha terra.

As MĂŁos

Brandamente escrevem dos espasmos do sol.
Envelhecem do pulso ao cérebro, ao calor baço
de um revérbero no eixo dos ventos, usura
das mĂĄscaras que, sucessivamente, as transformam

de consciĂȘncia em cal ou metal obscuro.
E jå não é por si que a presença existe ou
subsiste o que separa. Destroem as sementes,
apodrecem como um sopro e nĂŁo sĂŁo remanso

na areia ou domadoras de chamas. Igualam-se
Ă  ĂĄgua, para serem raiz do que se cala
e insinuam-se, para sempre, no pĂł da noite.

Um castelo de pele tomba. Deixam de ser
nomeadas ou nome. Escrevem, brandamente,
do termo da mĂșsica o luto do silĂȘncio.