Sonetos sobre Castelos

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Sonetos de castelos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Paisagem Única

Olhas-me tu: e nos teus olhos vejo
Que eu sou apenas quem se vĂȘ: assim
Tu tanto me entregaste ao teu desejo
Que Ă© nos teus olhos que eu me vejo a mim.

Em ti, que bem meu corpo se acomoda!
Ah! quanto amor por os teus olhos arde!
Contigo sou? — perco a paisagem toda…
Longe de ti? — sou como um dobre Ă  tarde…

Adeuses aos casais dessas Marias
Em cuja graça o meu olhar flutua,
Tudo o que amei ao teu amor o entrego.

Choupos com ar de velhas Senhorias,
Castelo moiro donde nasce a Lua,
E apenas tu, a tudo o mais sou cego.

InconstĂąncia

Procurei o amor que me mentiu.
Pedi Ă  Vida mais do que ela dava.
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarĂŁo nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer…
Um sol a apagar-se e outro a acender
Nas brumas dos atalhos por onde ando…

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que hĂĄ de partir tambĂ©m… nem eu sei quando…

VisĂŁo Medieva

Quando em outras remotas primaveras,
Na idade-média, sob fuscos tetos,
Dois amantes passavam, mil aspectos
Tinham aquelas medievais quimeras.

Nas armaduras rĂ­gidas e austeras,
Na aérea perspectiva dos objetos
Andavam sonhos e visÔes, diletos
Segredos mortos nas extintas eras.

O fantasma do amor pelos castelos
Mudo vagava entre os luares belos,
Dos corredores nas paredes frias.

NĂŁo raro se escutava um som de passos,
Rumor de beijos, frĂȘmito de abraços
Pelas caladas, fundas galerias.

Meu Coração

Eu tenho um coração – um mĂ­sero coitado
ainda vive a sonhar… ainda sabe viver…
– acredita que o mudo Ă© um castelo encantado
e criança vive a rir batendo de prazer…

Eu tenho um coração, – um mĂ­sero coitado
que um dia hĂĄ de por fim, o mundo compreender…
– Ă© um poeta, um sonhador, um pobre esperançado
que habita no meu peito e enche de sons meu ser…

Quando tudo Ă© matĂ©ria e Ă© sombra – ele Ă© uma luz…
Ainda crĂȘ na ilusĂŁo… no amor… na fantasia…
– sabe todos de cor os versos que compus…

Deus pÎs-me um coração com certeza enganado:
– e Ă© por isso, talvez, que ainda faço poesia
lembrando um sonhador do sĂ©culo passado!…

As MĂŁos

Brandamente escrevem dos espasmos do sol.
Envelhecem do pulso ao cérebro, ao calor baço
de um revérbero no eixo dos ventos, usura
das mĂĄscaras que, sucessivamente, as transformam

de consciĂȘncia em cal ou metal obscuro.
E jå não é por si que a presença existe ou
subsiste o que separa. Destroem as sementes,
apodrecem como um sopro e nĂŁo sĂŁo remanso

na areia ou domadoras de chamas. Igualam-se
Ă  ĂĄgua, para serem raiz do que se cala
e insinuam-se, para sempre, no pĂł da noite.

Um castelo de pele tomba. Deixam de ser
nomeadas ou nome. Escrevem, brandamente,
do termo da mĂșsica o luto do silĂȘncio.

RuĂ­nas

Se Ă© sempre Outono o rir das Primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair…
Que a vida Ă© um constante derruir
De palĂĄcios do Reino das Quimeras!

E deixa sobre as ruĂ­nas crescer heras,
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida Ă© um contĂ­nuo destruir
De palĂĄcios do Reino das Quimeras!

Deixa tombar meus rĂștilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguĂȘ-los
Mais alto do que as ĂĄguias pelo ar!

Sonhos que tombam! Derrocada louca!
SĂŁo como os beijos duma linda boca!
Sonhos!… Deixa-os tombar… Deixa-os tombar.

Campesinas VIII

Orgulho das raparigas,
Encanto ideal dos rapazes,
Acendes crenças vivazes
Com tuas belas cantigas.

No louro ondear das espigas,
Boca cheirosa a lilazes,
Carne em polpa de ananases
Lembras baladas antigas.

Tens uns tons enevoados
De castelos apagados
Nas eras medievais.

Falta-te o pajem na ameia
Dedilhando, a lua cheia,
O bandolim dos seus ais!

Floripes

Fazes lembrar as mouras dos castelos,
As errantes visÔes abandonadas
Que pelo alto das torres encantadas
Suspiravam de trĂȘmulos anelos.

Traços ligeiros, tímidos, singelos
Acordam-te nas formas delicadas
Saudades mortas de regiÔes sagradas,
Carinhos, beijos, lĂĄgrimas, desvelos.

Um requinte de graça e fantasia
DĂĄ-te segredos de melancolia,
Da Lua todo o lĂąnguido abandono…

Desejos vagos, olvidadas queixas
VĂŁo morrer no calor dessas madeixas,
Nas virgens florescĂȘncias do teu sono.

Perdi os Meus FantĂĄsticos Castelos

Perdi meus fantĂĄsticos castelos
Como nĂ©voa distante que se esfuma…
Quis vencer, quis lutar, quis defendĂȘ-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!

Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma…
– Tantos escolhos! Quem podia vĂȘ-los? –
Deitei-me ao mar e nĂŁo salvei nenhuma!

Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias…

Sobem-me aos lĂĄbios sĂșplicas estranhas…
Sobre o meu coração pesam montanhas…
Olho assombrada as minhas mĂŁos vazias…

Tatuagens Complicadas Do Meu Peito

Tatuagens complicadas do meu peito:
TrofĂ©us, emblemas, dois leĂ”es alados…
Mais, entre coraçÔes engrinaldados,
Um enorme, soberbo, amor-perfeito…

E o meu brasĂŁo… Tem de oiro, num quartel
Vermelho, um lis; tem no outro uma donzela,
Em campo azul, de prata o corpo, aquela
Que é no meu braço como que um broquel.

Timbre: rompante, a megalomania…
Divisa: um ai, – que insiste noite e dia
Lembrando ruĂ­nas, sepulturas rasas…

Entre castelos serpes batalhantes,
E ĂĄguias de negro, desfraldando as asas,
Que realça de oiro um colar de besantes!

As Tuas MĂŁos Terminam Em Segredo

As tuas mĂŁos terminam em segredo.
Os teus olhos sĂŁo negros e macios
Cristo na cruz os teus seios (?) esguios
E o teu perfil princesas no degredo…

Entre buxos e ao pé de bancos frios
Nas entrevistas alamedas, quedo
O vendo pÔe o seu arrastado medo
Saudoso o longes velas de navios.

Mas quando o mar subir na praia e for
Arrasar os castelos que na areia
As crianças deixaram, meu amor,

SerĂĄ o haver cais num mar distante…
Pobre do rei pai das princesas feias
No seu castelo Ă  rosa do Levante !

CastelĂŁ da Tristeza

Altiva e couraçada de desdém,
Vivo sozinha em meu castelo: a Dor!
Passa por ele a luz de todo o amor …
E nunca em meu castelo entrou alguém!

CastelĂŁ da Tristeza, vĂȘs? … A quem? …
– E o meu olhar Ă© interrogador –
Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pĂŽr …
Chora o silĂȘncio … nada … ninguĂ©m vem …

CastelĂŁ da Tristeza, porque choras
Lendo, toda de branco, um livro de horas,
À sombra rendilhada dos vitrais? …

À noite, debruçada, plas ameias,
Porque rezas baixinho? … Porque anseias? …
Que sonho afagam tuas mĂŁos reais? …

Floriram por Engano as Rosas Bravas

Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhĂĄ-las…
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que hĂĄ pouco me enganavas?

Castelos doidos! TĂŁo cedo caĂ­stes!…
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mĂŁos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vĂŁo tristes!

E sobre nĂłs cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chĂŁo, na acrĂłpole de gelos…

Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze _quanta flor! _do céu,
Sobre nĂłs dois, sobre os nossos cabelos?

Fui Gostar De VocĂȘ

“Fui Gostar de VocĂȘ”
I
Fui gostar de vocĂȘ, – isso foi quando
julguei que ainda podia ser feliz. . .
IlusĂŁo!… Hoje as pedras vou tirando
do castelo de amor que eu mesmo fiz…

Conformo-me no entanto, – mesmo estando
como estou, da loucura, por um triz…
E procuro do peito ir apagando
a cor de um vulto de mulher que eu quis…

Quanto sonho fatal! Quanta cegueira
fez com que eu me iludisse com as safiras
de uns olhos lindos de mulher brejeira…

Fui gostar. . . e gostei … Sofri portanto
ao descobrir as mĂșltiplas mentiras
que eram do amor o seu supremo encanto

Maria das Quimeras

Maria das Quimeras me chamou
Alguém.. Pelos castelos que eu ergui
P’las flores d’oiro e azul que a sol teci
Numa tela de sonho que estalou.

Maria das Quimeras me ficou;
Com elas na minh’alma adormeci.
Mas, quando despertei, nem uma vi
Que da minh’alma, AlguĂ©m, tudo levou!

Maria das Quimeras, que fim deste
Às flores d’oiro e azul que a sol bordaste,
Aos sonhos tresloucados que fizeste?

Pelo mundo, na vida, o que Ă© que esperas?…
Aonde estĂŁo os beijos que sonhaste,
Maria das Quimeras, sem quimeras?…

Boa Noite

Boa noite, meu amor, – diz boa noite, querida,
vou deitar-me, e sonhar contigo ainda uma vez,
a noite assim azul, cheia de luz, nĂŁo vĂȘs?
Parece que nos chama e a sonhar nos convida…

O céu é aquela folha onde deixei perdida
a histĂłria de um amor, que te contei talvez,
– hoje, nela eu nĂŁo creio, e tu tambĂ©m nĂŁo crĂȘs,
– mas, para que falar nessa histĂłria esquecida?…

Boa noite, meu amor… VĂȘ se sonhas tambĂ©m…
“Um castelo encantado… um paĂ­s muito alĂ©m
e um prĂ­ncipe ao teu lado amoroso e cortĂȘs…”

Com o céu azul assim, talvez dormir consiga,
vou sonhar…vou sonhar contigo, minha querida,
vĂȘ se sonhas tambĂ©m comigo alguma vez!.

MĂŁezinha

Andam em mim fantasmas, sombras, ais…
Coisas que eu sinto em mim, que eu sinto agora;
NĂ©voas de dantes, dum longĂ­nquo outrora;
Castelos d’oiro em mundos irreais…

Gotas d’ĂĄgua tombando… Roseirais
A desfolhar-se em mim como quem chora…
— E um ano vale um dia ou uma hora,
Se tu me vais fugindo mais e mais!…

Ó meu Amor, meu seio Ă© como um berço
Ondula brandamente… Brandamente…
Num ritmo escultural d’onda ou de verso!

No mundo quem te vĂȘ?! Ele Ă© enorme!…
Amor, sou tua mĂŁe! VĂĄ… docemente
Poisa a cabeça… fecha os olhos… dorme…