Sonetos sobre Semente de Orlando Neves

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Sonetos de semente de Orlando Neves. Leia este e outros sonetos de Orlando Neves em Poetris.

As Mãos

Brandamente escrevem dos espasmos do sol.
Envelhecem do pulso ao cérebro, ao calor baço
de um revérbero no eixo dos ventos, usura
das máscaras que, sucessivamente, as transformam

de consciência em cal ou metal obscuro.
E já não é por si que a presença existe ou
subsiste o que separa. Destroem as sementes,
apodrecem como um sopro e não são remanso

na areia ou domadoras de chamas. Igualam-se
à água, para serem raiz do que se cala
e insinuam-se, para sempre, no pó da noite.

Um castelo de pele tomba. Deixam de ser
nomeadas ou nome. Escrevem, brandamente,
do termo da música o luto do silêncio.

A Área

Tudo o que houve, permanece, proeza do corpo
como um sulco bárbaro da memória dos dias,
ritos, remorsos, sementes futuras, a mudez.
Tudo aconteceu nas lágrimas e nas veias,

na precisão das luzes, no lugar móvel da ordem,
no gelo e no lume que entre as coisas navegam,
na palavra deflagrada, na paz das páginas.
Para onde vai o que não se move, o que é

dogma de cal, madeira, pedra ou ferro?
Como chamar à alma, à linguagem, às cores
que de amor pela morte morrem caladas,

na área eterna da casa, a que permanece
na velhice dos anos e dos ossos consumada,
como uma gota do tempo para além dos séculos?