Sonetos sobre Soneto

45 resultados
Sonetos de soneto escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Oficina Irritada

Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difĂ­cil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, nĂŁo ser.

Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendĂŁo de VĂŞnus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cĂŁo mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.

Soneto 399 PĂłs-Moderno

Cinema Novo, Bossa Nova, tudo
Ă© novo nesta terra! A velharia
nos vem sĂł do estrangeiro. O que seria
do Chaplin sem o velho cine mudo?

Temos tempos modernos! Também mudo
meu modo de pensar a poesia.
Concreto e verso livre contagia,
mas algo mais Ă  frente aguarda estudo:

É o raio do soneto, que ora volta
liberto das amarras do conceito
e sem as igrejinhas como escolta.

Depois do modernismo, vem refeito.
Até o vocabulário já se solta:
ao puro é duro, e ao sujo está sujeito.

Auto-Retrato

O’Neill (Alexandre), moreno portuguĂŞs,
cabelo asa de corvo; da angĂşstia da cara,
nariguete que sobrepuja de través
a ferida desdenhosa e nĂŁo cicatrizada.

Se a visagem de tal sujeito Ă© o que vĂŞs
(omita-se o olho triste e a testa iluminada)
o retrato moral também tem os seus quês
(aqui, uma pequena frase censurada…)

No amor? No amor crĂŞ (ou nĂŁo fosse ele O’Neill!)
e tem a veleidade de o saber fazer
(pois amor não há feito) das maneiras mil

que são a semovente estátua do prazer.
Mas sofre de ternura, bebe de mais e ri-se
do que neste soneto sobre si mesmo disse…

Soneto De Natal

Um homem, – era aquela noite amiga,
Noite cristĂŁ, berço do Nazareno, –
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto… A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena nĂŁo acode ao gesto seu.

E, em vĂŁo lutando contra o metro adverso,
SĂł lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

MarĂ­lia De Dirceu

Soneto 8

Nascer no berço da maior grandeza,
De palmas e de louros rodeado,
Deve-se aos grandes pais, ao tronco honrado,
Que ilustra deste longe a natureza.

Se porém muito mais se adora e preza
O Dom que o nobre sangue traz herdado,
Pela prĂłpria virtude sustentado,
Feliz o objeto da presente empresa.

De mil herĂłis, no Tejo vencedores,
Um ramo nasce, um ramo que a memĂłria
Faz imortal de seus progenitores.

Eu leio em vaticĂ­nio a sua histĂłria:
Une Francisco, a par de seus maiores
Ao herdado esplendor a prĂłpria glĂłria.