Sonetos sobre Dever

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Sonetos de dever escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Assim Seja!

Fecha os olhos e morre calmamente!
Morre sereno do Sever cumprido!
Nem o mais leve, nem um sĂł gemido
Traia, sequer, o teu Sentir latente.

Morre com alma leal, clarividente,
Da crença errando no Vergel florido
E o Pensamento pelos céus, brandido
Como um glĂĄdio soberbo e refulgente.

Vai abrindo sacrĂĄrio por sacrĂĄrio
Do teu sonho no Templo imaginĂĄrio,
Na hora glacial da negra Morte imensa…

Morre com o teu Dever! Na alta confiança
De quem triunfou e sabe que descansa
Desdenhando de toda a Recompensa!

Quem nĂŁo Ama, Desmente a Natureza

Se a flor namora a flor que lhe Ă© vizinha,
Se uma palma com outra enlaça os ramos,
Se nos prados, com cĂąndidos reclamos,
Namora uma avezinha outra avezinha.

Se o mundo o seu Autor quando o sustinha,
Nos eixos do poder, que acreditamos,
Na longa rotação que divisamos,
Viu que, para o suster, Amor convinha:

Se Amor Ă© um dever que impresso existe
Em tudo que vegeta a redondeza,
Em que o governo universal consiste:

Quem se exime de amor e a Amor despreza?
Quem ataca esta Lei? Quem lhe resiste?
Quem nĂŁo ama, desmente a Natureza.

Tem a Virtude o Prémio

Tardio Ă s vezes, sempre merecido,
Tem a Virtude o prémio aparelhado
Ao profĂ­cuo talento, ao peito honrado,
Que do dever o stĂĄdio tem corrido.

O SĂĄbio, que dos louros esquecido
SĂł no obrar bem os olhos tem cravado
InĂłpino tambĂ©m se acha c’roado
Por mĂŁos sob’ranas c’o laurel devido

Útil Ă  PĂĄtria seja, as paixĂ”es dome,
Seja piedoso, honesto, afĂĄvel, justo;
Que no futuro o espera ínclito nome.»

Assim falou Minerva ao Coro augusto,
Pondo no Templo do imortal Renome,
De glĂłria ornado, o teu prezado Busto.

Vida Obscura

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste num silĂȘncio escuro
A vida presa a trĂĄgicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

NinguémTe viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!

Soneto

NOTA: Tradução do poema de Félix Anvers

Segredo d’alma, da existĂȘncia arcano,
Eterno amor num instante concebido,
Mal sem esperança, oculto a ente humano,
E nunca de quem fĂȘ-lo conhecido.

Ai! Perto dela desapercebido
Sempre a seu lado, e sĂł, cruel engano,
Na terra gastarei meu ser insano
Nada ousando pedir e havendo tido!

Se Deus a fez tĂŁo doce e carinhosa,
Contudo anda inatenta e descuidosa
Do murmĂșrio de amor que a tem seguido.

Piamente ao cru dever sempre fiel
DirĂĄ lendo a poesia, seu painel:
“Que mulher Ă©?” Sem tĂȘ-lo compreendido.

Ajuste De Contas

Esta manhĂŁ me acorda para a vida
vinda com luz amena no meu rosto.
Pela janela os raios em descida
sĂŁo aspas de uma lauda sem desgosto.

Das queixas nĂŁo me queixo na acolhida
pois somam menos que o maior imposto.
Vale essa vida até aqui vivida
no tom alegre em que me trago exposto.

Mas nĂŁo me escoro no dever cumprido
porque de ver em muito haver implica
por este olhar ainda nĂŁo vencido.

Quisera essa alegria que me fica
chegar ao chĂŁo de muito irmĂŁo ferido
de vida desigual que nĂŁo se explica.

Soneto 549 Tematizado

De duas coisas todo bom poeta
dever tem de falar para ser posto
no cĂ­rculo dos grandes e no gosto
do povo ser mais um que se projeta:

de estrelas e de rosas. Nada veta
que seja seu soneto sĂł composto
de pétalas que espelhem-lhe o desgosto
do amor que feneceu e nos afeta.

Também ninguém proíbe que as estrelas
figurem esperanças ou paixÔes
e todos os sonetos tentem lĂȘ-las.

Não morre um de Bilac ou de CamÔes,
mas falta o que um poeta mede pelas
(dum cego) fantasias e visĂ”es…

Amar sem Possuir Ă© um Tormento

Se a ti, onde Amor leva o pensamento,
Meu triste coração levar pudesse,
DĂł terias, cruel, do que padece,
S’inda em teu peito cabe sentimento.

Amar sem possuir Ă© um tormento
Que sĂł quem o suporta Ă© que o conhece.
NĂŁo o conheces tu, pois te arrefece
Sempre, na ausĂȘncia, o frio esquecimento.

Tu tens um coração que se persuade
Dever amar sĂł quando se deleita
Na posse do prazer, da sociedade.

O meu segue outra estrada mais direita,
Ama distante, ferem-no a Saudade
O CiĂșme infernal, a vil Suspeita.