Soneto XXXII
Ao Reitor António de Mendonça
Famoso Alcides, que nos ombros altos
Esta soberba máquina sustentas,
E de Atlante a pessoa representas,
Que nunca de virtude os achou faltos.Seguros sem temor, sem sobre saltos
Andem quantos por teus experimentas,
Que apesar de mil hórridas tormentas,
Resistiram contigo a seus assaltos.Com tais ombros soster o mundo podes,
E se hoje te deténs neste trabalho
É um ensaio para mores coisas,Que como a todo peso sempre acodes,
E vas subindo acima por atalho,
Para cansares mais, aqui repousas.
Sonetos sobre Temor de Vasco Mouzinho de Quebedo
4 resultadosSoneto XXV
Do bravo mar onde às voltas ando
Ora temendo as ondas, ora o vento,
Na esperança maior de salvamento,
A minha barca vai à costa dando.Pus os olhos na costa, imaginando
Achar remanso de pirigo isento,
Vendo, porém, frustrado o pensamento,
Louvo o mar já demais seguro e brando.Ai fementido amor, amor tirano,
Que onde minha esperança tinha posta
Me trouxeste a fazer naufrágio amargo.Porém ainda comigo foste humano,
Que mais quero perder-me dando à costa,
Que andar com mil temores em mar largo.
Soneto IIII
Ao Reitor António de Mendonça.
Neste árduo labirinto onde me guio,
Sem esperança algua de saída,
Mostrai, senhor, o fio à minha vida,
Pois está minha vida já no fio.Incertos passos, hórrido desvio,
Medonhos ares, confusão crescida
Ma trazem com temor desfalecida,
E dela já de todo desconfio.A vós só tem minha esperança morta,
Se morta pode ser ua esperança
Que vos tem vivo, e largos anos tenha.Se espera mal, e ser queimada importa
Por crer mais do que pode e cá se alcança,
O fogo ponde, que eu lhe ajunto a lenha.
Soneto XXXXI
Quando as cerúleas ondas no mar alto,
Co’ a branda viração quieto e manso,
Que empolando-se vão de lanço em lanço,
Prognosticam dos ventos bravo assalto,Os Delfins, com ligeiro e leve salto,
Buscam do melhor porto o mor descanso,
Passando a tempestade em seu remanso
Já livres de temor e sobressalto.O bravo mar, é este bravo mundo,
Os Delfins, todos nós que nele andamos,
As religiões, seguros mansos portos.Para eles deste mar nos acolhamos,
Antes que em seu abismo alto e profundo
Soçobrados fiquemos, despois mortos.