Sonetos sobre Votos de Cláudio Manuel da Costa

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Sonetos de votos de Cláudio Manuel da Costa. Leia este e outros sonetos de Cláudio Manuel da Costa em Poetris.

XXIX

Ai Nise amada! se este meu tormento,
Se estes meus sentidĂ­ssimos gemidos
Lá no teu peito, lá nos teus ouvidos
Achar pudessem brando acolhimento;

Como alegre em servir-te, como atento
Meus votos tributara agradecidos!
Por séculos de males bem sofridos
Trocara todo o meu contentamento.

Mas se na incontrastável, pedra dura
De teu rigor não há correspondência,
Para os doces afetos de ternura;

Cesse de meus suspiros a veemĂŞncia;
Que Ă© fazer mais soberba a formosura
Adorar o rigor da resistĂŞncia.

LXVI

NĂŁo te assuste o prodĂ­gio: eu, caminhante,
Sou uma voz, que nesta selva habito;
Chamei-me o pastor Fido; de um delito
Me veio o meu estrago; eu fui amante.

Uma ninfa perjura, uma inconstante
Neste estado me pĂ´s: do peito aflito,
Por eterno castigo, arranco um grito,
Que desengane o peregrino errante.

Se em ti se dá piedade, ó passageiro,
(Que assim o pede a minha sorte escura)
Atende ao meu aviso derradeiro:

Lágrimas não te peço, nem ternura:
Por voto um desengano, te requeiro
Que consagres Ă  minha sepultura.