NĂŁo Existe Prosa

NĂŁo existe prosa. A menos que se refiram os escritos, em prosa ou verso, que pretendem ensinar. NĂŁo há nada a ensinar embora haja tudo a aprender. Aquilo que se aprende vem do nosso prĂłprio ensino, vem da pergunta; vĂŁo-se aprendendo, pelas esperas, pela imobilidade Ă s portas, pela invisibilidade dos rostos depois de vistos tĂŁo prometedoramente, pela emenda sucessiva, pela insĂłnia sucessiva dos olhos e das figurações, sempre, vĂŁo-se aprendendo sempre as maneiras da pergunta. Uma pergunta em perguntas, um poema em poemas, uma rebarbativa constelação de objectos ofuscantes. Aprende-se que a pergunta se desloca com a luz inerente; ilumina-se a si mesma, a pergunta constelar; ensina a si mesma, ao longo de si mesma, os estilos de ser dotada dessa luz para fora e para dentro. Leio romances desde que perceba que nĂŁo estĂŁo a responder. Alguns sĂŁo extraordinárias máquinas interrogativas: “Ulisses”, “Filhos e Amantes”, “O Doutor Fausto”, “O Processo”, “A Morte de VirgĂ­lio”, “O Som e a FĂşria”, “Debaixo do VulcĂŁo”, “A Obra ao Negro”, “Lolita”, “Diário do LadrĂŁo”, todos os romances de CĂ©line como se fossem um sĂł, alguns outros, antes, agora. Os romances de Agustina Bessa-LuĂ­s, porventura os menos amados, sĂŁo entre nĂłs as quase Ăşnicas máquinas vivas de perguntar.

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