Uma Mentira

Uma mentira, fina como um cabelo, perturba para sempre a ordem do mundo. Aquilo que sabemos tem muita importĂąncia. Tomamos decisĂ”es, vamos por aqui ou por ali, consoante aquilo que sabemos. E tudo o que virĂĄ a seguir, o futuro atĂ© ao fim dos tempos, serĂĄ diferente se formos por um lado em vez de irmos por outro. Nascem pessoas devido a insignificĂąncias, morrem pessoas pelo mesmo motivo. Uma pessoa Ă© uma mĂĄquina de coisas a acontecer, possibilidades multiplicadas por possibilidades em todos os instantes do seu tempo. Uma mentira, mesmo que transparente, perturba o entendimento que os outros tĂȘm da realidade, leva-os a acreditar que Ă© aquilo que nĂŁo Ă©. Essa poluição vai turvar-lhes a lĂłgica do mundo. As conclusĂ”es a que forem capazes de chegar serĂŁo calculadas a partir de um dado falso e, desse ponto em diante, todas as contas serĂŁo multiplicaçÔes de erros. Uma mentira baralha tudo aquilo em que toca, desequilibra o mundo. É por isso que uma mentira precisa sempre de mentiras novas para se suster. O mundo nĂŁo lhe dĂĄ cobertura. Para alcançar coerĂȘncia, cada mentira requer a criação apressada de um mundo de mentira que a suporte. É assim que a mentira vai avançando pela verdade adentro,

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