O Estilo Ă© um Reflexo da Vida
Qual a causa que provoca, em certas Ă©pocas, a decadĂŞncia geral do estilo ? De que modo sucede que uma certa tendĂŞncia se forma nos espĂritos e os leva Ă prática de determinados defeitos, umas vezes uma verborreia desmesurada, outras uma linguagem sincopada quase Ă maneira de canção? Porque Ă© que umas vezes está na moda uma literatura altamente fantasiosa para lá de toda a verosimilhança, e outras a escrita em frases abruptas e com segundo sentido em que temos de subentender mais do que elas dizem? Porque Ă© que nesta ou naquela Ă©poca se abusa sem restrições do direito Ă metáfora? Eis o rol dos problemas que me pões. A razĂŁo de tudo isto Ă© tĂŁo bem conhecida que os Gregos atĂ© fizeram dela um provĂ©rbio: o estilo Ă© um reflexo da vida! De facto, assim como o modo de agir de cada pessoa se reflecte no modo como fala, tambĂ©m sucede que o estilo literário imita os costumes da sociedade sempre que a moral pĂşblica Ă© contestada e a sociedade se entrega a sofisticados prazeres. A corrupção do estilo demonstra plenamente o estado de dissolução social, caso, evidentemente, tal estilo nĂŁo seja apenas a prática de um ou outro autor,
Textos sobre Estilo de Séneca
3 resultadosPara um Grande EspĂrito Nada há que Seja Grande
Evitai tudo quanto agrade ao vulgo, tudo quanto o acaso proporciona; diante de qualquer bem fortuito parai com desconfiança e receio: tambĂ©m a caça ou o peixe se deixa enganar por esperanças falacciosas. Julgais que se trata de benesses da sorte? SĂŁo armadilhas! Quem quer que deseje passar a vida em segurança evite quanto possa estes benefĂcios escorregadios nos quais, pobres de nĂłs, atĂ© nisto nos enganamos: ao julgar possuĂ-los, deixamo-nos apanhar! Esta corrida leva-nos para o abismo; a Ăşnica saĂda para uma vida «elevada», Ă© a queda!
E mais: nem sequer poderemos parar quando a fortuna começa a desviar-nos da rota certa, nem ao menos ir a pique, cair instantaneamente: não, a fortuna não nos faz tropeçar, derruba-nos, esmaga-nos.
Prossegui, pois, um estilo de vida correcto e saudável, comprazendo o corpo apenas na medida do indispensável Ă boa saĂşde. Mas há que tratá-lo com dureza, para ele obedecer sem custo ao espĂrito: limite-se a comida a matar a fome, a bebida a extinguir a sede, a roupa a afastar o frio, a casa a servir de abrigo contra as intempĂ©ries. Que a habitação seja feita de ramos ou de pedras coloridas importadas de longe, Ă© pormenor sem interesse: ficai sabendo que para abrigar um homem tĂŁo bom Ă© o colmo como o ouro!
Atenção ao Estilo Rebuscado e Cheio de Adornos
Quando vires alguĂ©m com um estilo rebuscado e cheio de adornos podes ter a certeza de que a sua alma apenas se ocupa igualmente de bagatelas. Uma alma verdadeiramente grande Ă© mais tranquila e senhora de si a falar, e em tudo quanto diz há mais firmeza do que preocupação estilĂstica. Tu conheces bem os nossos jovens elegantes, com a barba e o cabelo todo aparado, que parecem acabadinhos de sair da fábrica! De tais criaturas nada terás a esperar de firme ou sĂłlido. O estilo Ă© o adorno da alma: se for demasiado penteado, maquilhado, artificial, em suma, sĂł provará que a alma carece de sinceridade e tem em si algo que soa a falso. NĂŁo Ă© coisa digna de homens o cuidado extremo com o vestuário! Se nos fosse dado observar “por dentro” a alma de um homem de bem — oh! que figura bela e venerável, que fulgor de magnificente tranquilidade nĂłs contemplarĂamos, que brilho nĂŁo emitiriam a justiça, a coragem, a moderação e a prudĂŞncia! E nĂŁo sĂł estas virtudes, mas ainda a frugalidade, o autodomĂnio, a paciĂŞncia, a liberalidade, a gentileza e essa virtude, incrivelmente rara no homem, que Ă© a humanidade — tambĂ©m estas fariam jorrar sobre a alma o seu sublime esplendor!