Preguiça Corporal e Preguiça Espiritual
Hå um trabalho servil, que é do corpo e para o corpo, embora a mente ajude, e um trabalho régio, que é da alma e para a alma, e quase ninguém exige às mãos. Hå, portanto, uma preguiça corporal e outra espiritual, uma ou outra senhora de todos.
A primeira Ă© dominada – nĂŁo destruĂda – pela necessidade e pelo tĂ©dio; a outra, reforçada pela arrogĂąncia, raramente Ă© vencida. Os homens sĂŁo indolentes que trabalham contra a vontade com os braços e a inteligĂȘncia para fugir ao trabalho mais difĂcil da alma.
As actividade imoderadas de muitos nĂŁo passam de pretextos da ociosidade espiritual. Em vez de se afadigarem para conseguir a renĂșncia dos bens materiais, sujeitam-se a um trabalho totalmente exterior que por vezes se converte, devido a inĂ©rcia ou embriaguez, em frenesim.
Mas reformar a natureza doente e transviada, abandonar a senda da concupiscĂȘncia e alcançar a liberdade serena dos filhos da luz representa um trabalho incomparavelmente mais duro do que dirigir uma empresa, fĂĄbrica ou banco. A maioria, por cĂĄclculo de indolĂȘncia, prefere o trabalho servil, embora penoso, ao real, mais ĂĄspero e duro – torna-se escravo das coisas terrestres para evitar o esforço que o tornaria dono do espĂrito.
Textos sobre Exterior de Giovanni Papini
2 resultadosAs Realidades do Sonho
O sonho Ă© a explosĂŁo dos sĂșbditos na ausĂȘncia do rei. Se o homem fosse um ser Ășnico, nĂŁo sonharia. Mas cada um de nĂłs Ă© uma tribo em que somente um chefe tem os privilĂ©gios da vida iluminada. O chefe Ă© a pessoa reconhecida pelos semelhantes, o «mim» legal da sociedade e da razĂŁo, obrigado a uma concordĂąncia fixa consigo mesmo. SĂł ele tem relaçÔes expressas com o mundo exterior e o Ășnico a reinar nas horas de vigĂlia. Mas abaixo dele hĂĄ um pequeno povo de cadetes expulsos, de insurrectos punidos, de hĂłspedes indesejĂĄveis – exilados da zona da consciĂȘncia, mas donos do subconsciente, encerrados no subterrĂŁneo, mas prontos para a evasĂŁo, vencidos mas nĂŁo mortos. HĂĄ a criança que foi renegada pelo jovem, o delinquente imobilizado pela moral e a lei, o louco que todos os dias estende armadilhas Ă razĂŁo raciocinadora, o poeta que a prĂĄtica condenou ao silĂȘncio, o bobo dominado pelas amarguras, o antepassado bĂĄrbaro que ainda se recorda do machado de pedra e dos festins de Tiestes.
O eu quotidiano e vulgar, o respeitĂĄvel, o vigilante, o vitorioso, dominou essa tribo de larvas inimigas, de irmĂŁos renegados e moribundos. E como a alma tem o seu subsolo,