A Boa Companhia
Normalmente é um mau hábito, que provoca frequentes enganos, estarmos tão prontamente dispostos a julgar, e principalmente a desaprovar. Assim como não se condena nem o mais culpado sem acolher a sua defesa, não se deve rejeitar estouvadamente certas coisas que seriam bem acolhidas, se se pudessem expor em toda a plenitude do seu direito. Conheço pessoas que não olham o que quer que seja senão com a intenção de notar-lhe os defeitos, e este é o meio mais apropriado para atrair o ódio e a inveja. Mas vejo também os que examinam aquilo que se apresenta para descobrir ali algo de agradável; e não é que não tenham o gosto melhor e mais delicado que os outros: mas eles desculpam tudo, e cuido que são facilmente amados, e que a sua amizade é bem vista.
Aquele que quer ser boa companhia deve fazer de modo que, quanto mais conhecidos sejam o seu coração e a sua forma de proceder, mais seja desejado; e como é belo ser humano, e não ter nada de injusto! Como a sinceridade confere distinção, e a falsidade me parece desagradável! Deve-se seguir este sentimento, em qualquer caso; pois jamais fica bem afastar-se dele.
Textos sobre Intenções de Antoine Gombaud
2 resultadosA Justa Medida no ConvĂvio
NĂŁo Ă© necessário esforçar-se demasiado pela abundância quando se tem apenas a intenção de agradar, o valor e a raridade sĂŁo bem mais consideráveis, a abundânÂcia cansa, a menos que seja extremamente diversificada. Pode atĂ© mesmo ocorrer, pelo demasiado nĂşmero de belas coisas, que nĂŁo se goste tanto, e mesmo que se estime menos aqueles que as fazem ou que as dizem; pois a abundância atrai a inveja que arruĂna sempre a amizade. Essa abundância faz tambĂ©m com que nĂŁo se admire mais aquilo que se achava, de inĂcio, tĂŁo surpreendente, pois fica-se acostumado, e aquilo nĂŁo parece mais tĂŁo difĂcil.
Em todos os exercĂcios como a dança, o manejo das armas, voltear ou montar a cavalo, conhecem-se os exceÂlentes mestres do ofĂcio por um nĂŁo sei quĂŞ de livre e desenvolto que agrada sempre, mas que nĂŁo pode ser muito adquirido sem uma grande prática; nĂŁo basta ainda ter-se exercitado assim por longo tempo, a menos que tenham sido tomados os melhores caminhos. As graças amam a justeza em tudo o que acabo de dizer; mas de um modo tĂŁo ingĂ©nuo, que dá a pensar que Ă© um presente da natureza. Isto mostra-se tambĂ©m verdadeiro nos exerÂcĂcios do espĂrito e na conversação,