Textos sobre Trabalho

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Textos de trabalho escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Falsa Emancipação da Mulher

Actualmente, tem-se a pretensão de que a mulher é respeitada. Uns cedem-lhe o lugar, apanham-lhe o lenço: outros reconhecem-lhe o direito de exercer todas as funções, de tomar parte na administração, etc.; mas a opinião que têm dela é sempre a mesma – um instrumento de prazer. E ela sabe-o. Isso em nada difere da escravatura. A escravatura mais não é do que a exploração por uns do trabalho forçado da maioria. Assim, para que deixe de haver escravatura é necessário que os homens cessem de desejar usufruir o trabalho forçado de outrem e considerem semelhante coisa como um pecado ou vergonha. Entretanto, eles suprimem a forma exterior da escravatura, depois imaginam, persuadem-se de que a escravatura está abolida mas não vêem, não querem ver que ela continua a existir porque as pessoas procedem sempre de maneira idêntica e consideram bom e equitativo aproveitar o trabalho alheio. E desde que isso é julgado bom, torna-se inveitável que apareçam homens mais fortes ou mais astutos dispostos a passar à acção. A escravatura da mulher reside unicamente no facto de os homens desejarem e julgarem bom utilizá-la como instrumento de prazer. Hoje em dia, emancipam-na ou concedem-lhe todos os direitos iguais aos do homem,

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Leitura Influenciada

No meio de tantas obras impressas, não é possível que os trabalhos mais profundos e originais chamem a atenção de um vasto público ou mesmo de um apreciável número de leitores qualificados para os apreciar. As ideias que lisonjeiem uma tendência corrente ou uma atitude emotiva terão sempre mais popularidade e assim algumas outras serão deturpadas para se adaptarem àquilo que já é aceite. O resíduo que fica no espírito público dificilmente será uma destilação do melhor e mais sábio – é mais provável que represente os preconceitos comuns da maioria dos críticos e jornalistas.

Prazer e Dor São as Únicas Certezas da Vida

Os filósofos têm tentado abalar todas as nossas certezas e mostrar que do mundo conhecemos apenas aparências. Possuiremos sempre, porém, duas grandes certezas, que nada poderia destruir: o prazer e a dor. Toda a nossa actividade deriva delas. As recompensas sociais, os paraísos e os infernos criados pelos códigos religiosos ou civis baseiam-se na acção dessas certezas, cuja evidente realidade não pode ser contestada.
Desde que a vida se manifesta, surgem o prazer e a dor. Não é o pensamento, mas a sensibilidade, que nos revela o nosso “eu”. Se dissesse: “Sinto, logo existo” ao invés de: “Penso, logo existo”, Descartes estaria muito perto da verdade. Assim modificada, a sua fórmula aplica-se a todos os seres e não a uma fração apenas da humanidade. Dessas duas certezas poder-se-ia deduzir a completa filosofia prática da vida. Fornecem uma resposta segura à eterna pergunta tão repetida desde o Eclesiastes: por que tanto trabalho e tantos esforços, já que a morte nos espera e o nosso planeta se extingará um dia?
Porquê? Porque o presente ignora o futuro e no presente a Natureza condena-nos a procurar o prazer e a evitar a dor.
O operário, curvado sob o peso do trabalho,

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Português Sentimental e com Horror à Disciplina

Excessivamente sentimental, com horror à disciplina, individualista sem dar por isso, falho de espírito de continuidade e de tenacidade na acção. A própria facilidade de compreensão, diminuindo-lhe a necessidade de esforço, leva-o a estudar todos os assuntos pela rama, a confiar demasiado na espontaneidade e brilho da sua inteligência. Mas quando enquadrado, convenientemente dirigido, o português dá tudo quanto se quer…
O nosso grande problema é o da formação das elites que eduquem e dirijam a Nação. A sua fraqueza ou deficiência é a mais grave crise nacional. Só as gerações em marcha, se devidamente aproveitadas, nos fornecerão os dirigentes – governantes, técnicos, professores, sacerdotes, chefes do trabalho, operários especializados – indispensáveis à nossa completa renovação. Considero até mais urgente a constituição de vastas elites do que ensinar toda a gente a ler. É que os grandes problemas nacioanis têm de ser resolvidos, não pelo povo, mas pelas elites enquadrando as massas.

O Que Procuro na Literatura

Que é que eu procuro na literatura? Que é que me arrasta para este combate interminável e sempre votado ao fracasso? Como é imbecil pensar-se que se escreve para se «ter nome» e as vantagens que nisso vêm. Espera-se decerto sempre fazer melhor, mas só porque sempre se falhou. Assim se sabe também que se vai falhar de novo. Não se escreve para ninguém, o problema decide-se apenas entre nós e nós. Mas há um lugar inatingível e cada nova tentativa é uma tentativa para o alcançar.
O desejo que nos anima é o de fixar, segurar pela palavra o que entrevemos e se nos furta. Julgamos às vezes que o atingimos, mas logo se sabe que não. Miragem perene de uma presença luminosa, de um absoluto de estarmos inundados dessa evidência, encantamento que nos deslumbra no instante e nesse instante se dissolve.
O que me arrasta nesta luta sem fim é o aceno de uma plenitude de ser, a integração perfeita do que sou no milagre que me entreluz, a transfiguração de mim e do mundo no que fulgura e vai morrer.
Recaído de cada vez no mais baixo, na grossa naturalidade de que sou feito,

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A Inevitabilidade das Revoluções

As revoluções não são factos que se aplaudam ou que se condenem. Havia nisso o mesmo absurdo que em aplaudir ou condenar as evoluções do Sol. São factos fatais. Têm de vir. De cada vez que vêm é sinal de que o homem vai alcançar mais uma liberdade, mais um direito, mais uma felicidade. Decerto que os horrores da revolução são medonhos, decerto que tudo o que é vital nas sociedades, a família, o trabalho, a educação, sofrem dolorosamente com a passagem dessa trovoada humana. Mas as misérias que se sofrem com as opressões, com os maus regímens, com as tiranias, são maiores ainda. As mulheres assassinadas no estado de prenhez e esmagadas com pedras, quando foi da revolução de 93, é uma coisa horrível; mas as mulheres, as crianças, os velhos morrendo de frio e de fome, aos milhares nas ruas, nos Invernos de 80 a 86, por culpa do Estado, e dos tributos e das finanças perdidas, e da fome e da morte da agricultura, é pior ainda. As desgraças das revoluções são dolorosas fatalidades, as desgraças dos maus governos são dolorosas infâmias.

A Minha Infelicidade

A evolução foi simples. Quando eu ainda estava contente queria estar descontente, e, com todos os meios que o tempo e a tradição me ofereciam, lancei-me no descontentamento — e então queria outra vez voltar a trás. Assim, fui sempre descontente, até com o meu contentamento. Estranho, como uma coisa a fingir, se usada sistematicamente, se pode tornar realidade. Jogos infantis (embora eu tivesse bem consciência de que eles eram infantis) marcaram o começo do meu declínio intelectual. Cultivei deliberadamente um tique facial, por exemplo, ou então andava pelo Graben com os braços cruzados atrás da cabeça. Um jogo repugnantemente infantil mas com êxito (o meu trabalho literário começou da mesma maneira; só mais tarde, durante a sua evolução, é que veio uma paragem, infelizmente). Se é possível forçar assim a infelicidade sobre nós, é possível forçar o que quer que seja sobre nós. Uma grande parte da minha evolução parece contradizer-me, na medida em que contradiz a minha natureza pensar nisso, não posso afiançar que os primeiros laivos da minha infelicidade eram já uma necessidade interior; eles devem de facto ter uma necessidade, mas não uma necessidade interior — eles lançaram-se sobre mim como um enxame de moscas e poderiam ter sido afastados de mim com a mesma facilidade.

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A Base da Civilização

A lei do universo baseia-se sobre o concurso destes dois grandes agentes: a luta pela vida e a selecção natural. A luta pela vida é o estado permanente de todos os seres, para os quais a criação é uma eterna batalha. A sorte do conflito decide-a a selecção natural. Como? Fixando na espécie, pela adaptação ao meio, os seres mais fortes, e expulsando os seres inferiores. Por isso o professor Haeckel affirma: «A teoria de Darwin estabelece que nas sociedades humanas, como nas sociedades animais, nem os direitos, nem os deveres, nem os bens, nem os gostos dos membros associados podem ser iguais.» Ora o que é que estabelece o Direito? O Direito estabelece precisamente o contrario disso: a igualdade dos deveres recíprocos para a mais equitativa distribuição dos bens.
O Direito portanto não só não é uma emanação da lei natural, mas é uma reacção contra essa lei. A natureza é o triunfo brutal decretado ao forte. A sociedade é a protecção consciente assegurada ao fraco. A criação funda a luta pela vida. A sociedade organiza o auxílio pela existência.
Uma civilização é tanto mais adiantada quanto mais ela submete ao seu domínio as fatalidades naturais. E é assim que o homem,

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A Dependência é a Raiz de Todos os Males

O que deve um cão a um cão, um cavalo a um cavalo? Nada. Nenhum animal depende do seu semelhante. Tendo porém o homem recebido o raio da Divindade a que se chama razão, qual foi o resultado? Ser escravo em quase toda a terra. Se o mundo fosse o que parece dever ser, isto é, se em toda parte os homens encontrassem subsistência fácil e certa e clima apropriado à sua natureza, impossível teria sido a um homem servir-se de outro. Cobrisse-se o mundo de frutos salutares. Não fosse veículo de doenças e morte o ar que contribui para a existência humana. Prescindisse o homem de outra morada e de outro leito além do dos gansos e cabras monteses, não teriam os Gengis Cãs e Tamerlões vassalos senão os próprios filhos, os quais seriam bastante virtuosos para auxiliá-los na velhice.
No estado natural de que gozam os quadrúpedes, aves e répteis, tão feliz como eles seria o homem, e a dominação, quimera, absurdo em que ninguém pensaria: para quê servidores se não tivésseis necessidade de nenhum serviço? Ainda que passasse pelo espírito de algum indivíduo de bofes tirânicos e braços impacientes por submeter o seu vizinho menos forte que ele,

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O Sustentáculo do Amor

A paz é algo que nenhum homem pode dar a outro. Um dos fins mais importantes para quem arrisca ser quem é será o de construir a sua própria paz. Esta resulta de um trabalho duro de equilíbrio das vontades, de uma harmonização árdua das diferentes dimensões interiores, como o pensar e o sentir; é um estado ágil e dinâmico que, ao limite, permite ultrapassar e vencer qualquer adversidade.
A paz não é o estado de quem vive uma ausência de conflitos, é o resultado da conciliação corajosa das diferentes forças que, dentro e fora de cada homem, tentam prevalecer sobre as demais, menosprezando-se mutuamente.

Muitos são os que julgam ter encontrado a paz quando se livram do sonho do amor. Estão enganados, o caminho até à felicidade é ainda longo para quem cansado assim se contenta, repousando de uma luta que nem chegou a começar.

A paz é um ponto de passagem de quem ruma à plenitude da vida. A paz é o ponto de partida para o amor, que por sua vez lança o homem para a felicidade. A paz é o ponto de chegada dos que sofrem as dores mais profundas.

A verdade é tranquila.

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Leitura e Escrita

A leitura, é de facto, em meu entender, imprescindível: primeiro, para me não dar por satisfeito só com as minhas obras, segundo, para, ao informar-me dos problemas investigados pelos outros, poder ajuizar das descobertas já feitas e conjecturar as que ainda há por fazer.
A leitura alimenta a inteligência e retempera-a das fadigas do estudo, sem, contudo, pôr de lado o estudo. Não deve­mos limitar-nos nem só à escrita, nem só à leitura: uma diminui-nos as forças, esgota-nos (estou-me referindo ao trabalho da escrita), a outra amolece-nos e embota-nos a energia. Devemos alternar ambas as actividades, equilibrá­-las, para que a pena venha a dar forma às ideias coligidas das leituras. Como soe dizer-se, devemos imitar as abelhas que deambulam pelas flores, escolhendo as mais apropriadas ao fabrico do mel e depois trabalham o material recolhido, distribuem-no pelos favos e, nas palavras do nosso Vergilio, o líquido mel acumulam, e fazem inchar os alvéolos de doce néctar.
(…) Nós devemos imitar as abelhas, discri­minar os elementos colhidos nas diversas leituras (pois a memória conserva-os melhor assim discriminados), e depois, aplicando-lhes toda a atenção, todas as faculdades da nossa inteligência, transformar num produto de sabor individual todos os vários sucos coligidos de modo a que,

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O Homem Ponderado Governa

Cultive a ponderação. É poder controlado. Armazena energia para ser usada em circunstâncias especiais. Ponderação é a arte de erguer as sobrancelhas em vez de deitar o telhado abaixo. Conserva-o calmo e acautelado em diferentes circunstâncias. Não significa fraqueza, nem estupidez, ou indiferença ou desinteresse. Na sua forma mais alta sugere autoconfiança, independência e domínio perfeito. O homem ponderado governa. O trabalho feito com ponderação é mais profícuo porque é bem feito, meticuloso e inteligente. Exerce uma grande influência sobre as outras pessoas. Sugere a existência de largas reservas de energia. Ponderação é poder bem controlado e dirigido. Evita desperdiçar energias vitais, e dá o equilíbrio necessário a todas as nossas forças.

A Hipocondria

Há doenças graves de que podemos morrer; a seguir, há outras que notamos e sentimos sem muitas preocupações, pois que delas se não morre logo; por fim, existem também as que apenas se reconhecem ao microscópio, o que lhes permite conduzir-se de um modo verdadeiramente repugnante, e esse microscópio é a hipocondria. Acredito que se os homens quisessem, de verdade, dar-se ao trabalho de estudar as doenças microscópicas, teriam a satisfação de estar doentes todos os dias.

A Fragilidade das Ideias

Uma «ideia» pode levar ao obscurecimento das sensações e distrair da realidade corrente (…) mas nenhuma «ideia» tem a força de nos arrebatar a um ponto tal que não paremos de repente perante um facto impressionante e não lhe sacrifiquemos tudo o que, durante anos de trabalho, tenhamos feito em prol da «ideia».

Saber Ler um Poema

– O poema está então centrado em si mesmo, monstruosamente solitário?
– Não tem pressa, pode bem esperar que o arranquem da sua solidão, possui forças expansivas bastantes, façam-no sair dali. Mas ou levam-no inteiro com o centro no centro e armado à vo]ta como um corpo vivo ou não levam nada, nem um fragmento. E o que muitas vezes se faz é contrabandear bocados: leva-se a parte errada dele na parte errada de nós para qualquer parte errada: filosofia, moral, politica, psicanálise, linguística, simbologia, literatura. Onde estão o corpo e a vida dele e a sua integridade? Onde, a solidão para escutar a solidão daquela voz? Porque é obrigatório dizé-lo: pouca gente tem ouvidos puros. Ou mãos limpas. Ler um poema é poder fazê-lo, refazê-lo: eis o espelho, o mágico objecto do reconhecimento, o objecto activo de criação do rosto. O eco visual se quanto a rostos fosse apenas lê-los fora e ver. Porque o mostrado e o visto são a totalidade daquilo que se mostra e vê — o nome: a revelação.
— Não é um destino assegurado.
— Só é seguro que a pergunta, a procura, o poema reincidente, cristalizam numa grande massa translúcida,

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Imoralidade Fatal

A acusação de imoralidade, que nunca faltou ao escritor corajoso, é aliás a última que resta a fazer quando não se tem mais nada a dizer a um poeta. Se fordes verdadeiro em vossas pinturas; se, à força de trabalhos diurnos e nocturnos, conseguirdes escrever a língua mais difícil do mundo, atiram-se-vos a palavra imoral ao rosto. Sócrates foi imoral, Jesus Cristo foi imoral; ambos foram perseguidos em nome das sociedades que derrubavam ou reformavam. Quando se quer matar alguém, acusam-no de imoralidade.

A Importância de Dostoievski na Literatura

Os dois grandes monumentos do romance que o século passado (XIX) nos legou, ou seja aqueles em que poderemos reconhecer-nos, foram os erguidos por Tolstoi e por Dostoievski. Mas se a lição do primeiro foi facilmente assimilada, a do segundo levou tempo – e tanto, que só hoje acabámos de entendê-la bem. Significa isto que Tolstoi, com incidências menores de moralização, continua um Balzac, é bem do século XIX. E foi por se pretender à força ligar a esse século também um Dostoievski que ele só tarde se nos revelou, para dominar ainda hoje, diga-se o que se disser, todo o romance europeu. Para usar uma expressão que já usei, não com inteira originalidade, e a que a crítica me ligou, direi que Tolstoi continua o romance-espectáculo e que Dostoievski inaugura o romance-problema.

Dir-se-ia, e com razão, que todo o romance é problema e espectáculo, já que o espectáculo resiste num romance de Kafka ou Dostoievski, e o problema implicita-se numa qualquer narrativa, nem que seja o Amadis de Gaula. Mas é tão visível a deslocação do acento na obra de Dostoievski, que ela foi defendida, para existir, pelo que lhe é inessencial (como por um Brunetière e recentemente um Ernst Fischer,

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É Fundamental Cultivar Interesses Exteriores

Uma das causas da infelicidade, da fadiga e da tensão nervosa é a incapacidade para tomar interesse por tudo o que não tenha uma importância prática na vida. Daí resulta que o consciente está sempre ocupado com um número restrito de problemas, cada um dos quais comporta certamente algumas inquietações e cuidados. A não ser no sono, o consciente nunca repousa para o subconsciente amadurecer gradualmente os problemas inquietantes. Sobrevem assim a excitabilidade, a falta de prudência, a irritabilidade e a perda do sentido das proporções. Tudo isto tanto são causas como efeitos da fadiga. À medida que aumenta a fadiga no homem, diminuem os seus interesses exteriores, e à medida que estes diminuem perde o descanso que eles lhe proporcionavam e fatiga-se ainda mais.
Este círculo vicioso não pode deixar de conduzir a uma depressão nervosa. O que é repousante nos interesses exteriores é o facto de não exigirem qualquer acção. Tomar decisões e exercer a sua vontade é bastante fatigante, especialmente quando é necessário fazê-lo apressadamente e sem o auxílio do subconsciente. Têm razão os que pensam que «a noite é boa conselheira» e que devem dormir primeiro antes de tomar alguma decisão importante, mas não é somente no sono que o processo mental do subconsciente pode realizar-se.

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Onde Há Inveja, não Há Amizade

Grande trabalho é querer fazer alegre rosto quando o coração está triste: pano é que não toma nunca bem esta tinta; que a Lua recebe a claridade do Sol, e o rosto, do coração. Nada dá quem não dá honra no que dá: não tem que agradecer quem, no que recebe, a não recebe; porque bem comprado vai o que com ela se compra. Nada se dá de graça o que se pede muito. Está certo! Quem não tem uma vida tem muitas. Onde a razão se governa pela vontade, há muito que praguejar, e pouco que louvar. Nenhuma cousa homizia os homens tanto consigo como males de que se não guardaram, podendo. Não há alma sem corpo, que tantos corpos faça sem almas, como este purgatório a que chamais honra; donde muitas vezes os homens cuidam que a ganham, aí a perdem. Onde há inveja, não há amizade; nem a pode haver em desigual conversação. Bem mereceu o engano quem creu mais o que lhe dizem que o que viu. Agora, ou se há-de viver no mundo sem verdade, ou com verdade sem mundo. E para muito pontual, perguntai-lhe de onde vem; vereis que algo tiene en el cuerpo,

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