Luto pela Bondade

Quero viver num mundo sem excomungados. NĂŁo excomungarei ninguĂ©m. NĂŁo diria, amanhĂŁ, a esse sacerdote: «VocĂȘ nĂŁo pode baptizar ninguĂ©m porque Ă© anticomunista.» NĂŁo diria ao outro: «NĂŁo publicarei o seu poema, o seu trabalho, porque vocĂȘ Ă© anticomunista.» Quero viver num mundo em que os seres sejam simplesmente humanos, sem mais tĂ­tulos alĂ©m desse, sem trazerem na cabeça uma regra-, uma palavra rĂ­gida, um rĂłtulo. Quero que se possa entrar em todas as igrejas, em todas as tipografias. Quero que nĂŁo esperem ninguĂ©m, nunca mais, Ă  porta do municĂ­pio para o deter e expulsar. Quero que todos entrem e saiam sorridentes da CĂąmara Municipal. NĂŁo quero que ninguĂ©m fuja em gĂŽndola, que ninguĂ©m seja perseguido de motocicleta. Quero que a grande maioria, a Ășnica maioria, todos, possam falar, ler, ouvir, florescer. Nunca compreendi a luta senĂŁo como um meio de acabar com ela. Nunca aceitei o rigor senĂŁo como meio para deixar de existir o rigor. Tomei um caminho porque creio que esse caminho nos leva, a todos, a essa amabilidade duradoura. Luto pela bondade ubĂ­qua, extensa, inexaurĂ­vel. De tantos encontros entre a minha poesia e a polĂ­cia, de todos esses episĂłdios e de outros que nĂŁo contarei porque repetidos,

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