O Pequeno Hamlet

O Tomás, o meu filho, brinca na velha ponte abandonada junto Ă  casa onde habito agora. Gosto muito deste filho cheio de consequentes silĂŞncios, reservas que lhe vĂŞm do desamparo da infância – de toda a infância – mas que nele se sublinham como se um veio nocturno se acercasse das coisas que interroga. A mim tudo se me esquece quando olho este filho que espanca com um ferro o ferro da ponte. Observando-o na desatenção que o guarda assim no fotograma da memĂłria, interpelo-o: «E leste O prĂ­ncipe da Dinamarca?», e ele responde-me seco, mortalmente evasivo: «NĂŁo Ă© O prĂ­ncipe da Dinamarca, Ă© O cavaleiro da Dinamarca», e volta a espancar, rebarbativo, o ferro.