A Audácia é Má no Conselho e boa na Execução
A audácia Ă© filha da ignorância e da rudeza, e muito inferior a todos os outros dons. Ela fascina, porĂ©m, atando-lhes os pĂ©s e as mĂŁos, aos que sĂŁo dĂ©beis de entendimento e falhos de coragem que formam a maioria; e prevalece atĂ© sobre os homens sábios nas horas da fraqueza. Por isso vemos que ela fez maravilhas nos Estados populares, menos do que nos governados por Senados ou por PrĂncipes; e muito mais ao primeiro arranco das pessoas audaciosas, do que depois, porque a audácia Ă© má cumpridora de promessas.
(…) Certamente aos homens de grande entendimento, os audacciosos dĂŁo um espectáculo de muito gozo; e atĂ© mesmo para o vulgo, a audácia nĂŁo deixa de ser ridĂcula. Porque se o absurdo Ă© o fundamento do riso nĂŁo duvideis de que uma grande audácia raramente existe sem absurdo.
(…) Deve ser bem considerado que a audácia Ă© sempre cega, para nĂŁo ver os perigos e as inconveniĂŞncias. Por isso ela Ă© má no conselho e boa na execução; para bem aproveitar e utilizar as pessoas audacciosas Ă© preciso que elas nunca estejam na chefia do comando, mas em segundo lugar, sob a direcção de outros. Porque no conselho Ă© bom ver os perigos,
Textos sobre Promessas de Francis Bacon
2 resultadosVantagens e Desvantagens dos Hábitos
Os pensamentos dos homens são muito concordantes com as suas inclinações; as suas palavras e os seus discursos concordam com as suas opiniões infusas ou apreendidas; mas as suas acções resultam daquilo a que estão acostumados. Eis porque, como Maquiavel muito bem notou (ainda que num exemplo mal inspirado), ninguém deve confiar na força da natureza, nem na jactância das palavras, se não estiverem corroboradas pelo hábito. O exemplo que ele apresenta é que, na execução de uma conspiração ousada, ninguém se deve fiar na ferocidade aparente ou nas promessas resolutas de qualquer pessoa, e que o empreendimento deve ser confiado a quem tiver já alguma vez manchado as suas mãos com sangue.
(…) A predominância do costume Ă© por toda a parte visĂvel; de tal maneira que ficarĂamos admirados de ouvir os homens declarar, protestar, prometer, fazer solenes juramentos, e depois vĂŞ-los proceder como tinham feito antes: como se fossem imagens mortas ou engenhos movidos apenas pelas rodas do costume. Vemos tambĂ©m o que Ă© o reino ou a tirania do costume.
(…) Já que o costume Ă© o principal magistrado da vida humana, deve o homem por todos os meios prover Ă obtenção de bons costumes.