O Meu PĂșblico

Quando escrevo, o meu Ășnico pĂșblico sou eu. Depois Ă© que me ponho Ă  espera de que sejam tambĂ©m os outros. NĂŁo porque antes os menospreze: simplesmente porque nĂŁo existem. Mas Ă© evidente que me interessa que existam depois como pĂșblico pelo desejo natural de me confirmarem a existĂȘncia como escritor. Porque a existĂȘncia como escritor implica a audiĂȘncia dos outros. NĂŁo escolho porĂ©m o pĂșblico – espero que ele me escolha. Seria duro que me nĂŁo escolhesse, por todas as implicaçÔes que se adivinham. Mas nĂŁo Ă© impeditivo de continuar – excepto se me convencerem (quem se convence?) que nĂŁo tinha nada a dizer. E no entanto, se nĂłs exprimirmos o tempo que nos exprime, hĂĄ um pacto indissolĂșvel entre o tempo e nĂłs. Assim, o nosso pĂșblico estĂĄ aĂ­ sempre, ainda que tenhamos que ser nĂłs a despertĂĄ-lo.

Esse pĂșblico nĂŁo desperta se nĂłs de facto lhe nĂŁo falarmos, ou seja, se realmente nĂŁo houve pacto algum com ele. Todas estas questĂ”es, porĂ©m, sĂŁo supĂ©rfluas para a necessidade de escrever. Cumpre-se um destino de artista como outros o de serem santos ou criminosos…
O resto nĂŁo Ă© connosco – Ă© com os crĂ­ticos, os hagiĂłgrafos e os arquivos da polĂ­cia.

Continue lendo…