O Bem Moral
Não quero deixar passar o ensejo de indicar a diferença entre o bem em geral e o bem moral. Ambas as noções têm algo de comum e mesmo indissociável: nada pode ser considerado um bem se não tiver uma parcela de bem moral, e o bem moral é indiscutivelmente um bem. Qual é então a distinção entre as duas categorias? O bem moral é o bem absoluto, no qual se realiza totalmente a felicidade, e graças ao contacto dele todas as outras coisas se podem tornar formas de bem. Exemplificando: há coisas que em si nem são boas nem são más, tais como o serviço militar, a carreira diplomática, a jurisprudência. Se estas tarefas forem realizadas conformemente ao bem moral, começam a tornar-se bens e passam, de indiferentes, para a categoria do bem. O bem, em geral, depende de estar ou não associado ao bem moral; o bem moral é em si mesmo o bem; o bem em geral está dependente do bem moral, enquanto o bem moral depende apenas de si. Tudo quanto é simplesmente um bem poderia ter sido um mal; o bem moral, pelo contrário, nunca poderia deixar de ter sido um bem.
Textos sobre Tarefa de Séneca
4 resultadosO Homem Perfeito
A virtude subdivide-se em quatro aspectos: refrear os desejos, dominar o medo, tomar as decisões adequadas, dar a cada um o que lhe Ă© devido. Concebemos assim as noções de temperança, de coragem, de prudĂŞncia e de justiça, cada qual comportando os seus deveres especĂficos. A partir de quĂŞ, entĂŁo, concebemos nĂłs a virtude? O que no-la revela Ă© a ordem por ela prĂłpria estabelecida, o decoro, a firmeza de princĂpios, a total harmonia de todos os seus actos, a grandeza que a eleva acima de todas as contingĂŞncias. A partir daqui concebemos o ideal de uma vida feliz, fluindo segundo um curso inalterável, com total domĂnio sobre si mesma. E como Ă© que este ideal aparece aos nossos olhos? Vou dizer-te.
O homem perfeito, possuidor da virtude, nunca se queixa da fortuna, nunca aceita os acontecimentos de mau humor, pelo contrário, convicto de ser um cidadão do universo, um soldado pronto a tudo, aceita as dificuldades como uma missão que lhes é confiada. Não se revolta ante as desgraças como se elas fossem um mal originado pelo azar, mas como uma tarefa de que ele é encarregado. «Suceda o que suceder», — diz ele — «o caso é comigo;
NĂŁo Há VĂcio que se nĂŁo Esconda Atrás de Boas Razões
NĂŁo há vĂcio que se nĂŁo esconda atrás de boas razões; a princĂpio, todos sĂŁo aparentemente modestos e aceitáveis, sĂł que a pouco e pouco vĂŁo-se expandindo. NĂŁo conseguirás pĂ´r fim a um vĂcio se deixares que ele se instale. Toda a paixĂŁo Ă© ligeira de inĂcio; depois vai-se intensificando, e Ă medida que progride vai ganhando forças. É mais difĂcil libertarmo-nos de uma paixĂŁo do que impedir-lhe o acesso. NinguĂ©m ignora que todas as paixões decorrem de uma tendĂŞncia, por assim dizer, natural. A natureza confiou-nos a tarefa de cuidar de nĂłs prĂłprios, mas, se formos demasiado complacentes, o que era tendĂŞncia torna-se vĂcio. Aos actos necessários juntou a natureza o prazer, nĂŁo para que fizĂ©ssemos deste a nossa finalidade mas apenas para nos tornar mais agradáveis aquelas coisas sem as quais Ă© impossĂvel a existĂŞncia. Se o procuramos por si mesmo, caĂmos na libertinagem. Resistamos, portanto, Ă s paixões quando elas se aproximam, já que, conforme disse, Ă© mais fácil nĂŁo as deixar entrar do que pĂ´-las fora.
Não há Sabedoria sem Esforço
Certos vĂcios, temos o hábito de atribuĂ-los aos condicionalismos do lugar e do tempo, mas o certo Ă© que, para onde quer que vamos, esses vĂcios nos acompanham. (…) Para quĂŞ iludirmo-nos? O nosso mal nĂŁo vem do exterior, está dentro de nĂłs, enraizado nas nossas vĂsceras, e, como ignoramos o mal de que sofremos, sĂł com dificuldade recuperamos a saĂşde. E mesmo que já tenhamos iniciado o tratamento, quando nos será possĂvel levar de vencida a enorme virulĂŞncia de tĂŁo numerosas enfermidades? Nem sequer solicitamos a presença do mĂ©dico, quando afinal Ă© mais fácil tratar uma doença ainda no inĂcio. Almas ainda frescas e inexperientes obedecem sem tardar a quem lhes indique o justo caminho. SĂł Ă© difĂcil reconduzir Ă via da natureza quem deliberadamente dela se apartou. Parece que temos vergonha de aprender a sabedoria! Pelos deuses, se acharmos que Ă© vergonhoso buscar um mestre, entĂŁo podemos perder a esperança de obter as vantagens da sabedoria por obra do acaso. A sabedoria sĂł se obtĂ©m pelo esforço.
Para dizer a verdade, nem sequer é necessário grande esforço se, como disse, começarmos a formar e a corrigir a nossa alma antes que as más tendências cristalizem. Mas mesmo já empedernidas,