A Minha TĂ©nica Narrativa

Todas as caracterĂ­sticas da minha tĂ©cnica narrativa actual (eu preferiria dizer: do meu estilo) provĂȘm de um princĂ­pio bĂĄsico segundo o qual todo o «dito» se destina a ser «ouvido». Quero com isto significar que Ă© como narrador oral que me vejo quando escrevo e que as palavras sĂŁo por mim escritas tanto para serem lidas como para serem ouvidas. Ora, o narrador oral nĂŁo usa pontuação, fala como se estivesse a compor mĂșsica e usa os mesmos elementos que o mĂșsico: sons e pausas, altos e baixos, uns, breves ou longas, outras. Certas tendĂȘncias, que reconheço e confirmo (estruturas barrocas, oratĂłria circular, simetria de elementos), suponho que me vĂȘm de uma certa ideia de um discurso oral tomado como mĂșsica. Pergunto-me mesmo se nĂŁo haverĂĄ mais do que uma simples coincidĂȘncia entre o carĂĄcter inorganizado e fragmentĂĄrio do discurso falado de hoje e as expressĂ”es «mĂ­nimas» de certa mĂșsica contemporĂąnea…