A Cultura nĂŁo se Enquadra na Totalidade PolĂ­tica

A cultura nunca poderĂĄ ser um factor estratĂ©gico de mudança. Se Ă© estratĂ©gia, nĂŁo Ă© cultura. Faz-se apelo Ă  cultura como estratĂ©gia de mudança, tentando resolver a condição perturbadora do homem culto, munido de culpabilidade inconsciente, ou simplesmente isento da culpabilidade pelo sofrimento. Isso nĂŁo Ă© possĂ­vel. A cultura nĂŁo se enquadra na totalidade polĂ­tica. HĂĄ um grave mal-entendido quanto a isso. A cultura nĂŁo significa o conforto da neutralidade, a irĂłnica graduação da expectativa, a ginĂĄstica do nĂŁo-compomisso. Significa um enraizamento em si mesmo, que conserva no homem a faculdade de julgar. NĂŁo Ă© contrĂĄria Ă  acção, mas Ă© condição necessĂĄria para que a acção seja serena e Ăștil, e nĂŁo impaciente e desordenada. NĂŁo se trata de racismo espiritual; nĂŁo se trata da pretensĂŁo de existir Ă  parte da histĂłria polĂ­tica do mundo. É a intenção absolutamente necessĂĄria de ser livre, face aos acontecimentos, qualquer que seja a lĂłgica que os liga. A cultura Ă© o que identifica um povo com a sua finalidade.