Passagens de Giacomo Leopardi

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Acreditaria que a embriaguez tivesse sido para os homens a primeira ocasião e a primeira causa do riso; outro efeito próprio e particular do género humano.

A morte não é um mal: porque liberta o homem de todos os males, e ao mesmo tempo que os bens tira-lhe os desejos. A velhice é o pior dos males: porque priva o homem de todos os prazeres, deixando-lhe deles todos os apetites; e traz consigo todas as dores. Não obstante, os homens temem a morte e desejam a velhice.

O tédio é de certo modo o mais sublime dos sentimentos humanos. O não poder ser satisfeito por nenhuma coisa terrena nem, por assim dizer, pela terra inteira. Por isso o tédio é pouco conhecido dos homens sem importância, e pouquíssimo ou nada dos outros animais.

O Medo de nos Aceitarmos como Somos

Como as prisões e as galeras estão cheias de pessoas, segundo elas, inocentíssimas, assim os empregos públicos e as honrarias de toda a espécie são ocupados apenas por pessoas convidadas e forçadas a aceitar a seu malgrado. É quase impossível encontrar alguém que confesse ou ter merecido as penas que sofre, ou procurado ou desejado as honrarias de que goza.

Necessidade de Ocupar a Vida

Aqueles que não têm necessidade de prover às suas próprias necessidades, e por isso deixam essa preocupação para os outros, não são geralmente capazes de prover, ou de maneira nenhuma ou então só com enorme dificuldade e de modo menos satisfatório que os outros, a uma necessidade importantíssima, que seja como for têm. Refiro-me à necessidade de ocupar a vida: a qual é muito maior do que todas as necessidades específicas, às quais, ocupando-a, se provê; e é também maior do que a necessidade de viver. Aliás, viver, em si mesmo, não é uma necessidade, porque desacompanhado da felicidade não é um bem. Pelo que, sendo-nos dada a vida, a maior e primeira necessidade é conduzi-la com a menor infelicidade possível. Ora, por um lado, a vida desocupada ou vazia é infelicíssima. Por outro lado, o modo de ocupação com o qual a vida se torna menos infeliz do que com qualquer outro é o que consiste em prover às próprias necessidades.

Quase todos os prazeres da imaginação e do sentimento consistem em recordações. (…)Estão no passado antes de estar no presente.

Os Homens Indecisos

Os homens indecisos são muitíssimo perseverantes nas suas decisões, sejam quais forem as dificuldades, e isto devido à sua própria indecisão, pois se abandonarem a resolução já tomada será preciso que tomem outra decisão. Por vezes são muito rápidos e eficientes a pôr em prática aquilo que decidiram: porque, receando a todo o momento ser induzidos a abandonar a resolução tomada e voltar àquela angustiosa hesitação e expectativa em que se encontraram antes de se decidirem, apressam a execução e nela aplicam toda a sua energia, mais estimulados pela ansiedade e pela incerteza de triunfarem sobre si próprios, do que pelo objectivo da empresa e pelos outros obstáculos que tenham de vencer para alcançá-lo.

Parece um absurdo, e no entanto é a exacta verdade, que, se toda a realidade for vazia, não haverá mais nada de real nem de substancial no mundo além das ilusões.

Do hábito da resignação nasce sempre a falta de interesse, a negligência, a indolência, a inactividade, e quase a imobilidade.

As Novas Verdades

Nenhuma verdade nova, e completamente estranha às opiniões correntes, quando demonstrada pelo primeiro que dela se apercebeu, ainda que com uma evidência e uma exactidão idênticas ou semelhantes às da geometria, conseguiu nunca, se as demonstrações não foram de natureza material, introduzir-se e fixar-se no mundo imediatamente, mas só com o decorrer do tempo, através da prática e do exemplo: habituando-se os homens a acreditar nela como em qualquer outra coisa; ou melhor, acreditando geralmente por habituação e não pela exactidão de experiências concebidas no seu espírito.
Até que por fim essa verdade, começando a ser ensinada às crianças, é comummente aceite, evocado com espanto o seu desconhecimento, e escarnecidas as opiniões diferentes, tanto dos antepassados como dos contemporâneos. E isto com tanto mais dificuldade e demora quanto maiores e mais importantes foram essas novas e incríveis verdades, e, por conseguinte, subversoras de um maior número de opiniões radicadas nos espíritos. Nem mesmo os intelectos perspicazes e treinados sentem facilmente toda a eficiência das razões que demonstram essas verdades ianuditas e que excedem em muito os limites dos conhecimentos e dos hábitos desses intelectos, principalmente quando essas razões e essas verdades se opõem às crenças neles arreigadas.

Não apenas os homens, mas o género humano foi e sempre será necessariamente infeliz. Não apenas o género humano, mas todos os animais. Não apenas os animais, mas todos os seres a seu modo. Não os indivíduos, mas as espécies, os géneros, os reinos, os sistemas, os mundos…

É curioso ver que quase todos os homens de grande valor têm maneiras simples; e que quase sempre as maneiras simples são tomadas como indício de pouco valor.