Os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.
Passagens de Mia Couto
388 resultadosA cinza voa, mas o fogo é que tem asa.
Quem vive no medo precisa de um mundo pequeno, um mundo que pode controlar.
A poeira não vem da terra mas dos anos. Temos medo do pó porque é uma prova de que o Tempo existe e nos vai tornar obsoletos, quase minerais.
A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente.
É fácil sermos tolerantes com os que são diferentes. É um pouco mais difícil sermos solidários com os outros. Difícil é sermos outros, difícil é sermos os outros.
Nós chegamos à morte como um rio que desagua no mar: uma parte está a nascer e, simultaneamente, a outra já se assombra no sem-fim.
A guerra, disse o adivinho, é uma espécie de serpente que matamos sem pisar a cabeça. Um pequeno descuido e eis que ela ressurge no escondido do capinzal.
O melhor modo de criar um estilo próprio é receber influências, as mais diversas e variadas influências.
Quando regressava da pescaria, não tinha mais defesa para os olhos da mulher e dos filhos que se espetavam nele. Pareciam olhos de cachorro, custava admitir, mas a verdade é que a fome iguala os homens aos animais.
Sem roupa, teu corpo está nu. Sem filhos, tua vida está despida.
Destino
à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganosvou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escassoconheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer dispersoagora
que mais
me poderei vencer?
No coração envelhecido de uma mãe, os filhos regressam sempre tarde.
Eis a nossa sina: esquecer para ter passado, mentir para ter destino.
Contra factos tudo são argumentos.
Essa habilidade em produzir diversidade, esse é o segredo da nossa vitalidade e das nossas artes de sobrevivência. Temos que saber manter essa capacidade – agora no plano cultural e civilizacional – para respondermos às novas ameaças que sobre todos nós pesam. As saídas que nos restam pedem-nos não o olhar do lince mas o olho composto da mosca.
A diferença entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra, os pobres sâo os primeiros a serem mortos; na Paz, os pobres são os primeiros a morrer. Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na Guerra, passamos a ser violadas por quem não conhecemos.
Há coisas que fazem o homem, outras fazem o humano.
Não são os grandes traumas que fabricam as maldades. São, sim as miúdas arrelias do quotidiano, esse silencioso pilão que vai esmoendo a esperança, grão a grão.
A gargalhada é mulher, o riso é masculino.