Causas e Curas para o Fanatismo
O fanatismo Ă© para a superstição o que o delĂrio Ă© para a febre, o que Ă© a raiva para a cĂłlera. Aquele que tem ĂŞxtases, visões, que considera os sonhos como realidades e as imaginações como profecias Ă© um entusiasta; aquele que alimenta a sua loucura com a morte Ă© um fanático. (…) O mais detestável exemplo de fanatismo Ă© aquele dos burgueses de Paris que correram a assassinar, degolar, atirar pelas janelas, despedaçar, na noite de SĂŁo Bartolomeu, os seus concidadĂŁos que nĂŁo iam Ă missa. Há fanáticos de sangue frio: sĂŁo os juizes que condenam Ă morte aqueles cujo Ăşnico crime Ă© nĂŁo pensar como eles. Quando uma vez o fanatismo gangrenou um cĂ©rebro a doença Ă© quase incurável. Eu vi convulsionários que, falando dos milagres de S. Páris, sem querer se acaloravam cada vez mais; os seus olhos encarniçavam-se, os seus membros tremiam, o furor desfigurava os seus rostos e teriam morto quem quer que os houvesse contrariado.
NĂŁo há outro remĂ©dio contra essa doença epidĂ©mica senĂŁo o espĂrito filosĂłfico que, progressivamente difundido, adoça enfim a Ăndole dos homens, prevenindo os acessos do mal porque, desde que o mal fez alguns progressos, Ă© preciso fugir e esperar que o ar seja purificado.
Passagens sobre Missa
35 resultadosMissa e maré se espera de pé.
A missa e o pimento, sĂŁo fraco alimento.
Ouvir missa nĂŁo gasta tempo, dar esmola nĂŁo empobrece.
Ontem Ă Tarde um Homem das Cidades
Ontem Ă tarde um homem das cidades
Falava Ă porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que tĂŞm fome,
E dos ricos, que sĂł tĂŞm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O Ăłdio que ele sentia, e a compaixĂŁo
Que ele dizia que sentia.
(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu — não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os
outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais Ă© perder isto, e ser infeliz.)
Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmĂşrio longĂnquo dos chocalhos
A esse entardecer
NĂŁo parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem Ă missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.
Responso
I
Num castelo deserto e solitário,
Toda de preto, Ă s horas silenciosas,
Envolve-se nas pregas dum sudário
E chora como as grandes criminosas.Pudesse eu ser o lenço de Bruxelas
Em que ela esconde as lágrimas singelas.II
É loura como as doces escocesas,
Duma beleza ideal, quase indecisa;
Circunda-se de luto e de tristezas
E excede a melancĂłlica Artemisa.Fosse eu os seus vestidos afogados
E havia de escutar-lhe os seu pecados.III
Alta noite, os planetas argentados
Deslizam um olhar macio e vago
Nos seus olhos de pranto marejados
E nas águas mansĂssimas do lago.Pudesse eu ser a Lua, a Lua terna,
E faria que a noite fosse eterna.IV
E os abutres e os corvos fazem giros
De roda das ameias e dos pegos,
E nas salas ressoam uns suspiros
Dolentes como as sĂşplicas dos cegos.Fosse eu aquelas aves de pilhagem
E cercara-lhe a fronte, em homenagem.V
E ela vaga nas praias rumorosas,
Triste como as rainhas destronadas,
A missa se derrama com muito amem.
A missa Ă© acabada; partamos a obra.
O VĂcio de Ler
O vĂcio de ler tudo o que me caĂsse nas mĂŁos ocupava o meu tempo livre e quase todo o das aulas. Podia recitar poemas completos do repertĂłrio popular que nessa altura eram de uso corrente na ColĂ´mbia, e os mais belos do SĂ©culo de Ouro e do romantismo espanhĂłis, muitos deles aprendidos nos prĂłprios textos do colĂ©gio. Estes conhecimentos extemporâneos na minha idade exasperavam os professores, pois cada vez que me faziam na aula qualquer pergunta difĂcil, respondia-lhes com uma citação literária ou com alguma ideia livresca que eles nĂŁo estavam em condições de avaliar. O padre Mejia disse: «É um garoto afectado», para nĂŁo dizer insuportável. Nunca tive que forçar a memĂłria, pois os poemas e alguns trechos de boa prosa clássica ficavam-me gravados em trĂŞs ou quatro releituras. Ganhei do padre prefeito a primeira caneta de tinta permanente que tive porque lhe recitei sem erros as cinquenta e sete dĂ©cimas de «A vertigem», de Gaspar NĂşnez de Arce.
Lia nas aulas, com o livro aberto em cima dos joelhos e com tal descaramento que a minha impunidade sĂł parecia possĂvel devido Ă cumplicidade dos professores. A Ăşnica coisa que nĂŁo consegui com as minhas astĂşcias bem rimadas foi que me perdoassem a missa diária Ă s sete da manhĂŁ.
Como a vida Ă© o maior benefĂcio do universo, e nĂŁo há mendigo que nĂŁo prefira a misĂ©ria Ă morte, segue-se que a transmissĂŁo da vida, longe de ser uma ocasiĂŁo de galanteio, Ă© a hora suprema da missa espiritual.
Para a missa e para o moinho nĂŁo esperes pelo teu vizinho.
Estas Risadas
Estas risadas lĂmpidas e frescas
Que Pan trauteia em cálamos maviosos
Nesta amplidĂŁo dos campos verdurosos,
Nestas paisagens flĂłreas, pitorescas;Toda esta pompa e gala principescas
Destas searas, destes altanosos
Montes e várzeas, prados vigorosos,
Louros — talvez como as visões tudescas;Este luxuoso e rico paramento,
Feito de luz e de deslumbramento
— Do grande altar da natureza imensa.Aguarda o poeta sacerdote augusto,
Para cantar no seu missal robusto,
A nova Missa da razĂŁo que pensa…
Com tolos, nem para a missa.
No Amor Ă© a Alma aquilo que Mais nos Toca
As mesmas paixões sĂŁo bastante diferentes nos homens. O mesmo objecto pode-lhes agradar por aspectos opostos; suponho que vários homens podem prender-se a uma mesma mulher; uns a amam pelo seu espĂrito, outros pela sua virtude, outros pelos seus defeitos, etc. E pode atĂ© acontecer que todos a amem por coisas que ela nĂŁo tem, como quando se ama uma mulher leviana a quem se julga sĂ©ria. Pouco importa, a gente prende-se Ă idĂ©ia que se tem prazer em fazer dela; e Ă© mesmo apenas essa idĂ©ia que se ama, nĂŁo Ă© a mulher leviana. Assim, nĂŁo Ă© o objeÂto das paixões que as degrada ou as enobrece, mas a maÂneira como a gente o encara.
Ora, eu disse que era posÂsĂvel que se buscasse no amor algo mais puro do que o interesse dos nossos sentidos. Eis o que me faz pensar assim. Vejo todos os dias no mundo que um homem cerÂcado de mulheres com as quais nunca falou, como na missa, no sermĂŁo, nem sempre se decide pela mais boniÂta, ou mesmo pela que lhe pareça tal. Qual a razĂŁo disso? É que cada beleza exprime um carácter bem particular, e preferimos aquele que melhor se encaixa no nosso.
Rodopio
Volteiam dentro de mim,
Em rodopio, em novelos,
Milagres, uivos, castelos,
Forcas de luz, pesadelos,
Altas tĂ´rres de marfim.Ascendem hĂ©lices, rastros…
Mais longe coam-me sois;
Há promontórios, farois,
Upam-se estátuas de herois,
Ondeiam lanças e mastros.Zebram-se armadas de côr,
Singram cortejos de luz,
Ruem-se braços de cruz,
E um espelho reproduz,
Em treva, todo o esplendor…Cristais retinem de mĂŞdo,
Precipitam-se estilhaços,
Chovem garras, manchas, laços…
Planos, quebras e espaços
Vertiginam em segrĂŞdo.Luas de oiro se embebedam,
Rainhas desfolham lirios;
Contorcionam-se cĂrios,
Enclavinham-se delĂrios.
Listas de som enveredam…Virgulam-se aspas em vozes,
Letras de fogo e punhais;
Há missas e bacanais,
Execuções capitais,
Regressos, apoteoses.Silvam madeixas ondeantes,
Pungem lábios esmagados,
Há corpos emmaranhados,
Seios mordidos, golfados,
Sexos mortos de anseantes…(Há incenso de esponsais,
Há mãos brancas e sagradas,
Há velhas cartas rasgadas,
Há pobres coisas guardadas –
Um lenço, fitas, dedais…)Há elmos, trofĂ©us, mortalhas,
Emanações fugidias,