Olinda

(Do alto do mosteiro, um frade a vĂȘ)

De limpeza e claridade
Ă© a paisagem defronte.
TĂŁo limpa que se dissolve
a linha do horizonte.

As paisagens muito claras
nĂŁo sĂŁo paisagens, sĂŁo lentes.
SĂŁo Ă­ris, sol, aguaverde
ou claridade somente.

Olinda Ă© sĂł para os olhos,
nĂŁo se apalpa, Ă© sĂł desejo.
Ninguém diz: é lå que eu moro.
Diz somente: Ă© lĂĄ que eu vejo.

Tem verdĂĄgua e nĂŁo se sabe,
a nĂŁo ser quando se sai.
NĂŁo porque antes se visse,
mas porque nĂŁo se vĂȘ mais.

As claras paisagens dormem
no olhar, quando em existĂȘncia.
DiluĂ­das, evaporadas,
sĂł se reĂșnem na ausĂȘncia.

Limpeza tal sĂł imagino
que possa haver nas vivendas
das aves, nas ĂĄreas altas,
muito além do além das lendas.

Os acidentes, na luz,
nĂŁo sĂŁo, existem por ela.
NĂŁo hĂĄ nem pontos ao menos,
nem hå mar, nem céu, nem velas.

Quando a luz Ă© muito intensa
Ă© quando mais frĂĄgil Ă©:
planĂ­cie, que de tĂŁo plana
parecesse em pé: