Poemas sobre Amor de Afonso Lopes Vieira

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Poemas de amor de Afonso Lopes Vieira. Leia este e outros poemas de Afonso Lopes Vieira em Poetris.

Saudades nĂŁo as Quero

Bateram fui abrir era a saudade
vinha para falar-me a teu respeito
entrou com um sorriso de maldade
depois sentou-se Ă  beira do meu leito
e quis que eu lhe contasse sĂł a metade
das dores que trago dentro do meu peito

NĂŁo mandes mais esta saudade
ouve os meus ais por caridade
ou eu entĂŁo deixo esfriar esta paixĂŁo
amor podes mandar se for sincero
saudades isso nĂŁo pois nĂŁo as quero

Bateram novamente era o ciĂşme
e eu mal me apercebi de que batera
trazia o mesmo Ăłdio do costume
e todas as intrigas que lhe deram
e vinha sem um pranto ou um queixume
saber o que as saudades me fizeram

NĂŁo mandes mais esta saudade,
ouve os meus ais por caridade,
ou eu entĂŁo deixo esfriar esta paixĂŁo,
amor podes mandar se for sincero,
saudades isso nĂŁo pois nĂŁo as quero.

O Sapo

Não há jardineiro assim,
Não há hortelão melhor
Para uma horta ou jardim,
Para os tratar com amor.

É o guarda das flores belas,
da horta mais do pomar;
e enquanto brilham estrelas,
lá anda ele a rondar…

Que faz ele? Anda a caçar
os bichos destruidores
que adoecem o pomar
e fazem tristes as flores.

Por isso, ficam zangadas
as flores, se se faz mal
a quem as traz tĂŁo guardadas
com o seu cuidado leal.

E ele guarda as flores belas,
a horta mais o pomar;
brilham no céu as estrelas,
e ele ronda, a trabalhar…

E ao pobre sapo, que Ă© cheio
de amor pela terra amiga,
dizem-lhe que Ă© feio
e há quem o mate e persiga

Mas as flores ficam zangadas,
choram, e dizem por fim:
– «EntĂŁo ele traz-nos guardadas,
e depois pagam-lhe assim?»

E vendo, Ă  noite, passar
o sapo cheio de medo,
as flores, para o consolar,
chamam-lhe lindo, em segredo…

Saudades Trágico-Marítimas

Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.
Na praia, de bruços,
fico sonhando, fico-me escutando
o que em mim sonha e lembra e chora alguém;
e oiço nesta alma minha
um longĂ­nquo rumor de ladainha,
e soluços,
de alĂ©m…

Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.

SĂŁo meus AvĂłs rezando,
que andaram navegando e que se foram,
olhando todos os céus;
sĂŁo eles que em mim choram
seu fundo e longo adeus,
e rezam na ânsia crua dos naufrágios;
choram de longe em mim, e eu oiço-os bem,
choram ao longe em mim sinas, presságios,
de alĂ©m, de alĂ©m…

Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.

Naufraguei cem vezes já…
Uma, foi na nau S. Bento,
e vi morrer, no trágico tormento,
Dona Leonor de Sá:
vi-a nua, na praia áspera e feia,
com os olhos implorando
– olhos de esposa e mĂŁe –
e vi-a, seus cabelos desatando,
cavar a sua cova e enterrar-se na areia.
– E sozinho me fui pela praia alĂ©m…

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