Procuro-te
Procuro a ternura sĂşbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.Oh, a carĂcia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.Procuro-te: fruto ou nuvem ou mĂşsica.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dĂłceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas nĂŁo quando se ama,
nĂŁo quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidĂŁo,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar Ă© devassado pelas estrelas.
Poemas sobre Céu de Eugénio de Andrade
3 resultados Poemas de céu de Eugénio de Andrade. Leia este e outros poemas de Eugénio de Andrade em Poetris.
Que Diremos Ainda?
Vê como de súbito o céu se fecha
sobre dunas e barcos,
e cada um de nĂłs se volta e fixa
os olhos um no outro,
e como deles devagar escorre
a Ăşltima luz sobre as areias.Que diremos ainda? SerĂŁo palavras,
isto que aflora aos lábios?
Palavras?, este rumor tĂŁo leve
que ouvimos o dia desprender-se?
Palavras, ou luz ainda?Palavras, nĂŁo. Quem as sabia?
Foi apenas lembrança doutra luz.
Nem luz seria, apenas outro olhar.
Poema XVIII
Impetuoso, o teu corpo Ă© como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.