Poemas sobre Estranhos de Fernando Pessoa

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Poemas de estranhos de Fernando Pessoa. Leia este e outros poemas de Fernando Pessoa em Poetris.

Ao Longe, ao Luar

Ao longe, ao luar,
No rio uma vela,
Serena a passar,
Que Ă© que me revela?

NĂŁo sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.

Que angĂșstia me enlaça?
Que amor nĂŁo se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.

NĂŁo sei quantas almas tenho

NĂŁo sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, sĂł tenho alma.
Quem tem alma nĂŁo tem calma.
Quem vĂȘ Ă© sĂł o que vĂȘ,
Quem sente nĂŁo Ă© quem Ă©,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e nĂŁo eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha prĂłpria paisagem,
Assisto Ă  minha passagem,
Diverso, mĂłbil e sĂł,
NĂŁo sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como pĂĄginas, meu ser.
O que segue nĂŁo prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto Ă  margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.

PĂ”e-me as MĂŁos nos Ombros…

PĂ”e-me as mĂŁos nos ombros…
Beija-me na fronte…
Minha vida Ă© escombros,
A minha alma insonte.

Eu nĂŁo sei por quĂȘ,
Meu desde onde venho,
Sou o ser que vĂȘ,
E vĂȘ tudo estranho.

PÔe a tua mão
Sobre o meu cabelo…
Tudo Ă© ilusĂŁo.
Sonhar Ă© sabĂȘ-lo.