Poemas Interrogativos de Egito Gonçalves

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Com Palavras

Com palavras me ergo em cada dia!
Com palavras lavo, nas manhĂŁs, o rosto
e saio para a rua.
Com palavras – inaudĂ­veis – grito
para rasgar os risos que nos cercam.
Ah!, de palavras estamos todos cheios.
PossuĂ­mos arquivos, sabemo-las de cor
em quatro ou cinco lĂ­nguas.
Tomamo-las Ă  noite em comprimidos
para dormir o cansaço.
As palavras embrulham-se na lĂ­ngua.
As mais puras transformam-se, violĂĄceas,
roxas de silĂȘncio. De que servem
asfixiadas em saliva, prisioneiras?
PossuĂ­mos, das palavras, as mais belas;
as que seivam o amor, a liberdade…
Engulo-as perguntando-me se um dia
as poderei navegar; se alguma vez
dilatarei o pulmĂŁo que as encerra.
Atravessa-nos um rio de palavras:
Com elas eu me deito, me levanto,
e faltam-me palavras para contar…

AnĂșncio no Ar

CĂ©us, nuvens, ondas, ventos,
dai-me notĂ­cias do meu amor norueguĂȘs.

Elementos da natureza gastos por tantos versos,
ferralha romĂąntica, brilhai de novo
e trazei-me notĂ­cias do meu amor norueguĂȘs.

Aquela que eu amei um verĂŁo na praia
– pĂ©rola cuja ostra era um barco de carvĂŁo,
matrĂ­cula de Bergen, essa mesma, elementos!,
notĂ­cias, notĂ­cias do meu amor norueguĂȘs.

A que veio dos fiordes e vivia num barco
encostado ao cais, junto de um guindaste;
a que me acendeu a manhĂŁ do amor,
a que abriu a porta Ă s tempestades,
a que me deu a chave da invenção…
Existe? Fugiu à ocupação? Morreu prisioneira?

NotĂ­cias, notĂ­cias do seu rosto que mal lembro,
do seu corpo de caule adolescente…
NotĂ­cias do seixo branco que trocĂĄmos
com palavras de amor em inglĂȘs mal decorado.

NotĂ­cias da que foi espiga mal madura,
notĂ­cias do meu amor norueguĂȘs.