Poemas Interrogativos de Filinto ElĂ­sio

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Usos Deste Mundo

Nas praças uns perguntam novidades;
Outros dĂŁo volta Ă s ruas, ao namoro;
Este usuras cobrar, esse as demandas
Lembrar corre ao Juiz que se diverte.
Ir de Jano aprender a ser bifronte,
De MercĂşrio, no trato, a ser bilingue,
Franco no prometer, no dar escasso.
C’os olhos fitos no ávido interesse
Ser consigo leal, com todos falso
É ser homem capaz, home’ entendido.
Assim, que vemos nĂłs por este esconso
Mundo? Vemos logrões, vemos logrados;
Ninguém vês ir com cândido desejo
Aos SĂ©necas, aos SĂłcrates de agora
Perguntar as lições tão necessárias
De ser honrado, ser com todos justo.
TĂŁo sobejos se crĂŞem de honra e virtude,
Que cuida cada um poder de sobra
Mostrar na OcasiĂŁo virtude a rodo,
E chega a OcasiĂŁo, falha a virtude.

Ode à Esperança

1

Vem, vem, doce Esperança, único alívio
Desta alma lastimada;
Mostra, na c’roa, a flor da Amendoeira,
Que ao Lavrador previsto,
Da Primavera próxima dá novas.

2

Vem, vem, doce Esperança, tu que animas
Na escravidĂŁo pesada
O aflito prisioneiro: por ti canta,
Condenado ao trabalho,
Ao som da braga, que nos pés lhe soa,

3

Por ti veleja o pano da tormenta
O marcante afouto:
No mar largo, ao saudoso passageiro,
(Da sposa e dos filhinhos)
Tu lhe pintas a terra pelas nuvens.

4

Tu consolas no leito o lasso enfermo,
C’os ares da melhora,
Tu dás vivos clarões ao moribundo,
Nos já vidrados olhos,
Dos horizontes da Celeste Pátria.

5

Eu já fui de teus dons também mimoso;
A vida largos anos
Rebatida entre acerbos infortĂşnios
A sustentei robusta
Com os pomos de teus vergéis viçosos.

6

Mas agora, que Márcia vive ausente;
Que nĂŁo me alenta esquiva
C’o brando mimo dum de seus agrados,

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Desafogo

Onde estás, oh Filósofo indefesso
Pio sequaz da rĂ­gida Virtude,
TĂŁo terna a alheios, quanto a si severa?
Com que mágoa, com que ira olharas hoje
Desprezada dos homens, e esquecida
Aquela ânsia, que em nós pousou Natura
No âmago do peito, — de acudir-nos
Co’as forças, c’o talento, co’as riquezas
Ă€ pena, ao desamparo do homem justo!
Que (baldĂŁo da fortuna inĂ­qua) os Deuses
Puseram para símbolo do esforço,
Lutando a braços c’o áspero infortĂşnio?
Pedra de toque em que luzisse o ouro
De sua alma viril, onde encravassem
Seus farpões mais agudos as Desgraças,
E os peitos de virtude generosa
Desferissem poderes de árduo auxílio?
Que nunca os homens sĂŁo mais sobre-humanos
Mais comparados c’os sublimes Numes,
Que quando acodem com socorro activo,
NĂŁo manchado de sĂłrdido interesse,
Nem do fumo de frĂ­vola ufania;
Ou cheios de valor e de constância
Arrostam co’a medonha catadura
Da Desgraça, que apura iradas mágoas
Na casa nua do varĂŁo honesto.
Mas Grécia e Roma há muito que acabaram;
E as cinzas dos HerĂłis fortes e humanos,

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Que Mimoso Prazer!

1

Que mimoso prazer! Teu rosto amado
Me raiou na alma! Oh astro meu luzente!
Desfez-se em continente
O negrume cerrado,
Que me assombrava o coração aflito,
Em saudades tristĂ­ssimas sopito.

2

Bem, como quando aponta o sol radiante
Pelos ervosos cumes dos outeiros;
Fogem bruscos nevoeiros,
Da roxa luz brilhante;
Assim, mal vi teu rosto, assim fugiam
As Mágoas, que de luto a alma cobriam

3

Quem sempre assim de amor nos brandos laços!
Doces queixas de amor absorto ouvira!
Da idade nĂŁo sentira
O voo. Entre os teus braços
Me corte o fio, com a fouce, a Morte;
Que perco a vida, sem sentir o corte!

4

Se a meiga VĂ©nus, se o gentil Cupido
Cede a meus votos, cede Ă  minha Amada:
Se esta uniĂŁo prezada
NĂŁo rompe um Nume infido…
NĂŁo dou por mais feliz o vil Mineiro
Sobre montes de sĂłrdido dinheiro.

5

NĂŁo dou por mais feliz o Rei no trono
Lisonjado de CortesĂŁos astutos.

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Quando a Fortuna Encetou com Desgraças

Quando a Fortuna, de inconstante aviso,
Encetou com desgraças
O varĂŁo que nĂŁo veio humilde, abjecto
Adorar o seu Nume,
Na refalsada Corte, ou ante os cofres
Chapeados de Pluto;
Levando avante, o seu empenho, e acinte,
Maléfica lhe emborca
Sobre a cabeça a mágoas devotada,
Toda a Urna infelice,
Que Jove encheu colĂ©rico co’as penas
De atormentado inferno.
Dos ombros do VarĂŁo constante e justo
Resvalam debruçadas
Perdas de bens, desonras mal sofridas
A lhe aferrar o peito
Co’as garras afaimadas da pobreza;
Logo os tristes Pesares
Em torno ao coração serpeiam, mordem,
Trajando a rojo lutos.
Vem a má nova, de agouradas falas,
Que se compõe sequela
De tibiezas, senões, desconfianças,
Desamparo de amigos.
A Doença, com mão finada abrange
Os fatigados membros
E no âmago do peito as amargaras
VĂŁo assentar morada.
Com Ă­ndice maligno a ProvidĂŞncia
Lhe aponta no futuro,
Em nebuloso quadro hĂłrridas formas
De sinistros sucessos.
Quem nĂŁo quisera, com melhor semblante
Despedir-se do dia,
E fraudar, com as sombras do jazigo,

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