Talvez quem VĂŞ Bem nĂŁo Sirva para Sentir
Talvez quem vĂŞ bem nĂŁo sirva para sentir
E nĂŁo agrada por estar muito antes das maneiras.
É preciso ter modos para todas as coisas,
E cada coisa tem o seu modo, e o amor também.
Quem tem o modo de ver os campos pelas ervas
NĂŁo deve ter a cegueira que faz fazer sentir.
Amei, e nĂŁo fui amado, o que sĂł vi no fim,
Porque nĂŁo se Ă© amado como se nasce mas como acontece.
Ela continua tĂŁo bonita de cabelo e boca como dantes,
E eu continuo como era dantes, sozinho no campo.
Como se tivesse estado de cabeça baixa,
Penso isto, e fico de cabeça alta
E o dourado sol seca a vontade de lágrimas que não posso deixar de ter.
Como o campo Ă© vasto e o amor interior…!
Olho, e esqueço, como seca onde foi água e nas árvores desfolha.
Poemas sobre Lágrimas de Alberto Caeiro
2 resultadosOntem Ă Tarde um Homem das Cidades
Ontem Ă tarde um homem das cidades
Falava Ă porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que tĂŞm fome,
E dos ricos, que sĂł tĂŞm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O Ăłdio que ele sentia, e a compaixĂŁo
Que ele dizia que sentia.
(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu — não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os
outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais Ă© perder isto, e ser infeliz.)
Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmĂşrio longĂnquo dos chocalhos
A esse entardecer
NĂŁo parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem Ă missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.