IrmĂŁo, IrmĂŁos
Cada irmĂŁo Ă© diferente.
Sozinho acoplado a outros sozinhos.
A linguagem sobe escadas, do mais moço,
ao mais velho e seu castelo de importância.
A linguagem desce escadas, do mais velho
ao mĂsero caçula.SĂŁo seis ou sĂŁo seiscentas
distâncias que se cruzam, se dilatam
no gesto, no calar, no pensamento?
Que léguas de um a outro irmão.
Entretanto, o campo aberto,
os mesmos copos,o mesmo vinhático das camas iguais.
A casa Ă© a mesma. Igual,
vista por olhos diferentes?SĂŁo estranhos prĂłximos, atentos
à área de domĂnio, indevassáveis.
Guardar o seu segredo, sua alma,
seus objectos de toalete. Ninguém ouse
indevida cópia de outra vida.Ser irmão é ser o quê? Uma presença
a decifrar mais tarde, com saudade?
Com saudade de quĂŞ? De uma pueril
vontade de ser irmĂŁo futuro, antigo e sempre?
Poemas sobre Linguagem
23 resultadosMelancolia
Oh dĂ´ce luz! oh lua!
Que luz suave a tua,
E como se insinua
Em alma que fluctua
De engano em desengano!
Oh creação sublime!
A tua luz reprime
As tentações do crime,
E á dôr que nos opprime
Abres-lhe um oceano!É esse céo um lago,
E tu, reflexo vago
D’um sol, como o que eu trago
No seio, onde o afago,
No seio, onde o aperto?
Oh luz orphĂŁ do dia!
Que mystica harmonia
Ha n’essa luz tĂŁo fria,
E a sombra que me guia
N’este areal deserto!Embora as nuvens trajem
De dia outra roupagem,
O sol, de que Ă©s imagem,
NĂŁo tem essa linguagem
Que encanta, que namora!
Fita-te a gente, estuda,
(Sem mĂŞdo que se illuda)
Essa linguagem muda…
O teu olhar ajuda…
E a gente sente e chora!Ah! sempre que descrevas
A orbita que levas,
Confia-me o que escrevas
De quanto vĂŞs nas trevas,
Que a luz do sol encobre!
As victimas, que escutas,
De traças mais astutas
Que as d’essas fĂ©ras brutas…
Vida Toda Linguagem
Vida toda linguagem,
frase perfeita sempre, talvez verso,
geralmente sem qualquer adjectivo,
coluna sem ornamento, geralmente partida.Vida toda linguagem,
há entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome
aqui, ali, assegurando a perfeição
eterna do perĂodo, talvez verso,
talvez interjectivo, verso, verso.
Vida toda linguagem,
feto sugando em lĂngua compassiva
o sangue que criança espalhará — oh metáfora activa!
leite jorrado em fonte adolescente,
sémen de homens maduros, verbo, verbo.
Vida toda linguagem,
bem o conhecem velhos que repetem,
contra negras janelas, cintilantes imagens
que lhes estrelam turvas trajectĂłrias.
Vida toda linguagem —
como todos sabemos
conjugar esses verbos, nomear
esses nomes:
amar, fazer, destruir,
homem, mulher e besta, diabo e anjo
e deus talvez, e nada.
Vida toda linguagem,
vida sempre perfeita,
imperfeitos somente os vocábulos mortos
com que um homem jovem, nos terraços do inverno, contra
[a chuva,
tenta fazê-la eterna — como se lhe faltasse
outra, imortal sintaxe
Ă vida que Ă© perfeita
lĂngua
eterna.