Poemas sobre MĂŁes de Machado de Assis

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Poemas de mĂŁes de Machado de Assis. Leia este e outros poemas de Machado de Assis em Poetris.

Musa dos Olhos Verdes

Musa dos olhos verdes, musa alada,
Ó divina esperança,
Consolo do anciĂŁo no extremo alento,
E sonho da criança;

Tu que junto do berço o infante cinges
C’os fĂșlgidos cabelos;
Tu que transformas em dourados sonhos
Sombrios pesadelos;

Tu que fazes pulsar o seio Ă s virgens;
Tu que Ă s mĂŁes carinhosas
Enches o brando, tépido regaço
Com delicadas rosas;

Casta filha do céu, virgem formosa
Do eterno devaneio,
SĂȘ minha amante, os beijos meus recebe,
Acolhe-me em teu seio!

JĂĄ cansada de encher lĂąnguidas flores
Com as lĂĄgrimas frias,
A noite vĂȘ surgir do oriente a aurora
Dourando as serranias.

Asas batendo Ă  luz que as trevas rompe,
Piam noturnas aves,
E a floresta interrompe alegremente
Os seus silĂȘncios graves.

Dentro de mim, a noite escura e fria
MelancĂłlica chora;
Rompe estas sombras que o meu ser povoam;
Musa, sĂȘ tu a aurora!

Lua Nova

Mãe dos frutos, Jaci, no alto espaço
Ei-la assoma serena e indecisa:
Sopro Ă© dela esta lĂąnguida brisa
Que sussurra na terra e no mar.
NĂŁo se mira nas ĂĄguas do rio,
Nem as ervas do campo branqueia;
Vaga e incerta ela vem, como a idéia
Que inda apenas começa a espontar.

E iam todos; guerreiros, donzelas,
Velhos, moços, as redes deixavam;
Rudes gritos na aldeia soavam,
Vivos olhos fugiam p’ra o cĂ©u:
Iam vĂȘ-la, Jaci, mĂŁe dos frutos,
Que, entre um grupo de brancas estrelas,
Mal cintila: nem pĂŽde vencĂȘ-las,
Que inda o rosto lhe cobre amplo véu.

***

E um guerreiro: “Jaci, doce amada,
Retempera-me as forças; não veja
Olho adverso, na dura peleja,
Este braço jå frouxo cair.
Vibre a seta, que ao longe derruba
Tajaçu, que roncando caminha;
Nem lhe escape serpente daninha,
Nem lhe fuja pesado tapir.”

***

E uma virgem: “Jaci, doce amada,
Dobra os galhos, carrega esses ramos
Do arvoredo co’as frutas* que damos
Aos valentes guerreiros, que eu vou
A buscĂĄ-los na mata sombria,

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Aspiração

Sinto que hĂĄ na minha alma um vĂĄcuo imenso e fundo,
E desta meia morte o frio olhar do mundo
NĂŁo vĂȘ o que hĂĄ de triste e de real em mim;
Muita vez, Ăł poeta, a dor Ă© casta assim;
Refolha-se, nĂŁo diz no rosto o que ela Ă©,
E nem que o revelasse, o vulgo não pÔe fé
Nas tristes comoçÔes da verde mocidade,
E responde sorrindo Ă  cruel realidade.

Não assim tu, ó alma, ó coração amigo;
Nu, como a consciĂȘncia, abro-me aqui contigo;
Tu que corres, como eu, na vereda fatal
Em busca do mesmo alvo e do mesmo ideal.
Deixemos que ela ria, a turba ignara e vĂŁ;
Nossas almas a sĂłs, como irmĂŁ junto a irmĂŁ,
Em santa comunhão, sem cårcere, sem véus.
Conversarão no espaço e mais perto de Deus.

Deus quando abre ao poeta as portas desta vida
NĂŁo lhe depara o gozo e a glĂłria apetecida;
Tarja de luto a folha em que lhe deixa escritas
A suprema saudade e as dores infinitas.
Alma errante e perdida em um fatal desterro,

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