De Onde Ă© quase o Horizonte
De onde Ă© quase o horizonte
Sobe uma névoa ligeira
E afaga o pequeno monte
Que pára na dianteira.E com braços de farrapo
Quase invisĂveis e frios,
Faz cair seu ser de trapo
Sobre os contornos macios.Um pouco de alto medito
A névoa só com a ver.
A vida? NĂŁo acredito.
A crença? Não sei viver.
Poemas sobre Névoa de Fernando Pessoa
3 resultadosMensagem – Mar PortuguĂŞs
MAR PORTUGUĂŠS
Possessio Maris
I. O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.Quem te sagrou criou-te portuguĂŞs.
Do mar e nĂłs em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!II. Horizonte
Ă“ mar anterior a nĂłs, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
’Splendia sobre as naus da iniciação.Linha severa da longĂnqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves,
Fresta
Em meus momentos escuros
Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quanto a vida dá ou tem,Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longĂnquo horizonte
Cheio de sol posto ou nadoRevivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusĂŁo
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.