Poemas sobre Segredos de Fernando Pessoa

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Poemas de segredos de Fernando Pessoa. Leia este e outros poemas de Fernando Pessoa em Poetris.

Intervalo

Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas tĂȘm escutado —
Aquele amor cheio de crença e medo
Que Ă© verdadeiro sĂł se Ă© segredado?…
Quem te disse tĂŁo cedo?

NĂŁo fui eu, que te nĂŁo ousei dizĂȘ-lo.
NĂŁo foi um outro, porque nĂŁo sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Ou foi sĂł que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi sĂł qualquer ciĂșme meu de ti
Que o supĂŽs dito, porque o nĂŁo direi,
Que o supĂŽs feito, porque o sĂł fingi
Em sonhos que nem sei?

Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que nĂŁo passa do meu pensamento
Que anseia e que nĂŁo sente?

Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca —
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.

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Feliz Dia para Quem É

Feliz dia para quem Ă©
O igual do dia,
E no exterior azul que vĂȘ
Simples confia!

Azul do céu faz pena a quem
NĂŁo pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viver

Ah, e se o verde com que estĂŁo
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!

Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironia

De só sentir a terra e o céu
TĂŁo belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma p’ra os ter!

Entre o Luar e a Folhagem

Entre o luar e a folhagem,
Entre o sossego e o arvoredo,
Entre o ser noite e haver aragem
Passa um segredo.
Segue-o minha alma na passagem.

TĂȘnue lembrança ou saudade,
PrincĂ­pio ou fim do que nĂŁo foi,
NĂŁo tem lugar, nĂŁo tem verdade.
Atrai e dĂłi.

Segue-o meu ser em liberdade.

Vazio encanto Ă©brio de si,
Tristeza ou alegria o traz?
O que sou dele a quem sorri?
Nada Ă© nem faz.
SĂł de segui-lo me perdi.