Poemas sobre SilĂȘncio de Orlando Neves

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Poemas de silĂȘncio de Orlando Neves. Leia este e outros poemas de Orlando Neves em Poetris.

SĂł de Restos se Consagra o Tempo

Só de restos se consagra o tempo, força
cerrada na inutilidade destas
cores campestres, quando o sol em Novembro
escurece os sobreiros. SĂł de restos me
espera a cerimĂłnia de viver,
trĂąnsito e transigĂȘncia do silĂȘncio,
ocultado no meu corpo. SĂł de restos
o trespassa o tempo, mĂĄscara e manto. Morro
muito antes da morte, sem saber se os anjos
foram gaivotas hirtas no piedoso
musgos dos rios ou se hão-de ser maçãs
ou ciĂȘncia, loendros ou lembrança,
inocentes, lĂșcidos sonos ou oblata
de seda, a deus cedida, em pagamento
da paz. SĂł do que chega ao fim, se corrompe
e apodrece, se imagina o princĂ­pio,
a majestade das coisas, o silĂȘncio
irrevelado que o corpo desconhece.

Erra, Fio mortal da Alma, o Destino

Erra, fio mortal da alma, o destino.
Porém, trémulo, o não temo.
Seco serĂĄ o poder do nada, o silĂȘncio
dos deuses ou o rosto corrompido
dos homens. Estas folhas ĂĄsperas
e pĂĄlidas entardecem e conhecem-me.
O ar que queima, sem arder, a pedra
da manhĂŁ ou o inigualado luto
da noite, Ă© solene, Ă© suave,
inexorĂĄvel princĂ­pio de tudo
quanto existirá. É ido o sonho
do fogo, a exacta vida, sucumbe
o corpo no vazio enigma da cĂłlera
divina. Dura, sem medida, a excessiva,
a ébria, a avara solidão, neste ar
perene que, no odor da terra se
oculta. SĂł minha absurda aparĂȘncia
a Ave dilacera.

SĂł no Pensamento Volta o Mundo

SĂł no pensamento volta o
mundo. Ao ruĂ­do da voz
apenas aspiro — que a alma
Ă© o ser mais que a dor ou o
verde cinza do halo das
ĂĄrvores na manhĂŁ Ă­ntima das
cores diurnas. Temi os
deuses pelo coração dos
homens, ao homem temo
que por metade vive o medo
divino. Resta, no espasmo
da terra, a mĂĄgoa seca, a
ruína da ågua, a traição do
nada neste corpo de cera,
coroado do silĂȘncio ferido.
Se nĂŁo de amor Ă© o dia
aberto quando as vĂ­sceras
róseas ouvem a respiração
do fogo derramado eros.
Que a estreita vida diz na
tĂŁo pouco breve humilde
erva a tĂŁo febril brisa, cio de
matinal bĂșzio ou rouca
flauta. EntĂŁo me ergo e
ouso, vaso do vento, clamar
a queda. Ó esta humana e
divina pobreza de querer
sem fulgor, de tudo poder
sem desejo, alheio ou meu!
O que do futuro ignoro Ă©
maior que o tempo que vivo,
Ă© palavra de cega lĂ­ngua, em
mim calada por jamais lida.

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