Poemas sobre Sombra de Pedro Homem de Melo

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Poemas de sombra de Pedro Homem de Melo. Leia este e outros poemas de Pedro Homem de Melo em Poetris.

Mistério

Teu corpo veio a mim. Donde viera?
Que flor? Que fruto? PĂ©tala indecisa…
Rima suave: Outono ou Primavera?
Teu corpo veio como vem a brisa…

Rosa de Maio, encastoada em luto:
O dos meus olhos e o do meu cabelo.
Um quarto para as onze! E esse minuto
Ai! nunca, nunca mais pude esquecĂŞ-lo!

Viu-se, primeiro, o rosto e o ombro, depois.
E a mĂŁo subiu das ancas para o peito…
— Quem Ă©s? Sou teu… (Quando um e um sĂŁo dois,
Dois podem ser um sĂł cristal perfeito!)

Um quarto para as onze! Caiu neve?
Abri os olhos! Era quase dia…
Ou bater de asas, cada vez mais leve,
De pássaro na sombra que fugia?

Fui Pedir um Sonho ao Jardim dos Mortos

Fui pedir um sonho ao jardim dos mortos.
Quis pedi-lo, aos vivos. Disseram-me que nĂŁo.
Os mortos não sabem, lá onde é que estão,
Que neles se enfeitam os meus braços tortos.

Os mortos dormiam… Passei-lhes ao lado.
Arranquei-lhes tudo, tudo quanto pude;
Páginas intactas — um livro fechado
Em cada ataĂşde.

Ai as pedras raras! As pedras preciosas!
Relâmpagos verdes por baixo do mar!
A sombra, o perfume dos cravos, das rosas
Que os dedos, já hirtos, teimavam guardar!

Minha alma é um cadáver pálido, desfeito.
As suas ossadas
Quem sabe onde estĂŁo?
Trago as mĂŁos cruzadas,
Pesam-me no peito.
Quem sabe se a lama onde hoje me deito
Dará flor aos vivos que dizem que não?

Presságio

Ela há-de vir como um punhal silente
Cravar-se para sempre no meu peito.
Podem os deuses rir na hora presente
Que ela há-de vir como um punhal direito.
Cubram-me lutos, sordidez e chagas!
Também rubis das minhas mãos morenas!
Rasguem-se os véus do leito em que me afagas!
— A coroa de ferro Ă© cinza apenas…
E ela há-de vir a lepra que receio
E cuja sombra, aos poucos me consome.
Ela há-de vir, maior que a sede e a fome,
Ela há-de vir, a dor que ainda não veio.