Poemas sobre Suspiro de Cesário Verde

2 resultados
Poemas de suspiro de Cesário Verde. Leia este e outros poemas de Cesário Verde em Poetris.

Ironias do Desgosto

“Onde Ă© que te nasceu” – dizia-me ela Ă s vezes –
“O horror calado e triste Ă s coisas sepulcrais?
“Por que Ă© que nĂŁo possuis a verve dos franceses
“E aspiras, em silĂŞncio, os frascos dos meus sais?

“Por que Ă© que tens no olhar, moroso e persistente,
“As sombras dum jazigo e as fundas abstrações,
“E abrigas tanto fel no peito, que nĂŁo sente
“O abalo feminil das minhas expansões?

“Há quem te julgue um velho. O teu sorriso Ă© falso;
“Mas quando tentas rir parece entĂŁo, meu bem,
“Que estĂŁo edificando um negro cadafalso
“E ou vai alguĂ©m morrer ou vĂŁo matar alguĂ©m!

“Eu vim – nĂŁo sabes tu? – para gozar em maio,
“No campo, a quietação banhada de prazer!
“NĂŁo vĂŞs, Ăł descorado, as vestes com que saio,
“E os jĂşbilos, que abril acaba de trazer?

“NĂŁo vĂŞs como a campina Ă© toda embalsamada
“E como nos alegra em cada nova flor?
“EntĂŁo por que Ă© que tens na fronte consternada”
“Um nĂŁo-sei-quĂŞ tocante e enternecedor?”

Eu sĂł lhe respondia: — “Escuta-me.

Continue lendo…

Responso

I
Num castelo deserto e solitário,
Toda de preto, Ă s horas silenciosas,
Envolve-se nas pregas dum sudário
E chora como as grandes criminosas.

Pudesse eu ser o lenço de Bruxelas
Em que ela esconde as lágrimas singelas.

II
É loura como as doces escocesas,
Duma beleza ideal, quase indecisa;
Circunda-se de luto e de tristezas
E excede a melancĂłlica Artemisa.

Fosse eu os seus vestidos afogados
E havia de escutar-lhe os seu pecados.

III
Alta noite, os planetas argentados
Deslizam um olhar macio e vago
Nos seus olhos de pranto marejados
E nas águas mansíssimas do lago.

Pudesse eu ser a Lua, a Lua terna,
E faria que a noite fosse eterna.

IV
E os abutres e os corvos fazem giros
De roda das ameias e dos pegos,
E nas salas ressoam uns suspiros
Dolentes como as sĂşplicas dos cegos.

Fosse eu aquelas aves de pilhagem
E cercara-lhe a fronte, em homenagem.

V
E ela vaga nas praias rumorosas,
Triste como as rainhas destronadas,

Continue lendo…